As casas falam em Piratini: ativação patrimonial do legado farroupilha e o patrimônio para além do tombamento
Resumo
Esta tese investiga o processo de ativação patrimonial dos bens tombados oficialmente no município de Piratini/RS, analisando os discursos institucionais, as políticas de preservação e a percepção da comunidade. O objetivo central é compreender como esses bens são mobilizados simbolicamente e afetivamente, avaliando se os patrimônios vinculados ao legado farroupilha produzem ressonância na população local. Partimos da hipótese de que os mecanismos legais de tombamento, por si só, não garantem a preservação efetiva, sendo essencial a ativação social e emocional desses bens. A metodologia combinou análise documental (processos de tombamento, inventários e fontes históricas), história oral (entrevistas com agentes do IPHAN, IPHAE, UFPel e Museu Histórico Farroupilha) e questionários aplicados à comunidade, abrangendo tanto o perímetro urbano quanto os distritos rurais. Os resultados foram organizados em três eixos: (1) a trajetória da patrimonialização em Piratini, marcada por fases distintas (heroica, moderna e contemporânea); (2) a ativação prática do patrimônio, em que se discutem as ressignificações dos bens tombados por meio de usos culturais, turísticos e educativos; e (3) a ressonância comunitária, evidenciada pelos questionários, que revelaram uma dualidade: enquanto os símbolos farroupilhas são reconhecidos como patrimônio oficial, a comunidade identifica maior valor afetivo em espaços de convívio cotidiano, como o balneário municipal e o CTG. Conclui-se que a preservação patrimonial em Piratini é um processo dinâmico e contraditório, no qual a dimensão institucional não coincide integralmente com as percepções locais. A ressonância dos bens tombados existe, mas é mediada por camadas de significado que transcendem o discurso oficial, demandando políticas que integrem a salvaguarda legal à participação comunitária. O estudo reforça a importância de se considerar o patrimônio não apenas como herança histórica, mas como recurso vivo, cuja sustentabilidade depende de sua relevância social e afetiva.

