Extração assistida por ultrassom e caracterização de compostos bioativos da casca de uva preta cultivar vitória (Vitis vinifera L.)
Resumo
A viticultura brasileira gera grandes volumes de resíduos agroindustriais, como cascas e
bagaços de uva, os quais, se descartados inadequadamente, podem causar impactos
ambientais. Entretanto, esses resíduos são ricos em compostos lignocelulósicos e
bioativos de interesse para os setores alimentício, farmacêutico e cosmético. Nesse
contexto, o presente estudo teve como objetivo extrair e caracterizar compostos
fenólicos, antioxidantes da casca de uva preta cultivar Vitória (Vitis vinifera L.) por meio
de extração assistida por ultrassom de banho, avaliando a influência de diferentes
condições de solvente (água, etanol e acetona), bem como variações de concentração,
tempo e temperatura de extração. Os extratos obtidos foram submetidos a ensaios de
determinação de atividade antioxidante (DPPH), quantificação de compostos fenólicos
totais (Folin-Ciocalteu), análise de taninos (vanilina-HCl), além de caracterizações
espectroscópicas (UV-Vis, FTIR), cromatográficas (GC-MS) e testes de fotodegradação
em luz ultravioleta. Os resultados mostraram que solventes hidroetanólicos e
hidroacetônicos em concentrações intermediárias (20–70%) proporcionaram os maiores
rendimentos em fenólicos totais (até 316,7 mg GAE/L) e em taninos (até 8.697,9 mg
catequina/L), com elevada atividade antioxidante (EC50 de até 0,086 µg/mL). O uso de
solventes puros (100%) e temperaturas elevadas (60 °C) resultou em perda parcial da
atividade bioativa, sugerindo degradação térmica. A composição lignocelulósica da
casca de uva preta evidenciou teores de 25,7% de extrativos, 33,5% de celulose, 21,8%
de lignina e 19,1% de hemicelulose. As análises por GC-MS identificaram que os extratos
etanólicos se destacaram pela presença de cumarinas e niacinamida, enquanto os
acetônicos concentraram fenólicos condensados e esqualeno, sendo a seletividade dos
solventes confirmada por FTIR e UV-Vis. Conclui-se que a extração assistida por
ultrassom em condições otimizadas representa uma estratégia sustentável e eficiente
para recuperar moléculas que possam ser utilizadas, contribuindo para a valorização de
resíduos vitivinícolas e alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS 3 - Saúde e Bem-Estar que busca assegurar uma vida saudável e promover o
bem-estar para todas as pessoas; 9 - Indústria, Inovação e Infraestrutura, que visa
aumentar o acesso das pequenas indústrias e outras empresas e sua integração em
cadeias de valor e mercados, e 12 - Consumo e Produção Responsáveis, que propõe
assegurar padrões sustentáveis de produção e consumo, incentivando o uso eficiente de
recursos naturais, a redução de resíduos e a adoção de práticas empresariais
sustentáveis em toda a cadeia produtiva), ao propor soluções inovadoras para a
indústria, promover consumo responsável e favorecer benefícios à saúde.

