“O Brasil não pode parar!” : uma análise bakhtiniana do projeto de dizer da propaganda do ENEM 2020
Resumo
O mês é março e o ano é 2020. Os problemas provenientes do Covid-19 ainda estavam na sua origem. Naquele momento, nenhum país do mundo estava preparado para o que viria. No entanto, boa parte dos países do bloco europeu antecipou-se e estabeleceu políticas de saúde pública que tencionavam a restrição da propagação do vírus. No Brasil, pouco ou quase nada se fez. Não houve lockdown2 de fato, o que o Ministério da Saúde propôs foram medidas básicas como usar máscaras, álcool em gel e não promover aglomerações. No entanto, anualmente ocorre o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que possibilita o ingresso dos estudantes (principalmente da rede pública) nas IES do país. Com medo do que estava por vir, estudantes e entidades estudantis manifestaram-se pedindo o adiamento ou o cancelamento da prova em virtude do crescimento exponencial de casos e óbitos. Escolas foram fechadas, aulas interrompidas e o abismo existente entre estudantes da rede pública e da rede privada aumentou. Contudo, em maio de 2020, o Ministério da Educação lançou uma propaganda institucional confirmando a realização do ENEM. A aceitação do comercial por parte dos estudantes (interlocutores típicos) foi desastrosa. Neste sentido, esta pesquisa tem como enfoque, com base na perspectiva bakhtiniana, promover uma análise da verbo-visualidade do enunciado (propaganda institucional) e por consequência identificar para quem ela foi orientada e qual é o seu projeto de dizer. A parte teórica será dividida em três momentos. O enunciado e suas características, os gêneros do discurso e alguns apontamentos sobre propaganda e propaganda institucional. Para isso serão utilizados autores como Sobral e Giacomelli (2006), Fiorin (2016), Brait e Melo (2010), entre outros. A metodologia será norteada pela proposta elaborada por Sobral (2006), compreendida por três etapas: descrição, análise e interpretação. Além disso, nesta parte esclareceremos uma seção importante da análise da propaganda, que será a divisão em planos e sequências, de acordo com os pressupostos de Harris (1982). Por fim, teremos as considerações finais deste trabalho que apontam para um contrassenso entre a proposta inicial da propaganda institucional e o seu real projeto de dizer.

