O imaginário como mística do ensino em Sociologia: sobre a "atenção imaginante" nas narrativas visuais de Bagé

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Data
2013-08-23Autor
Moura, Lisandro Lucas de Lima
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Esta pesquisa de mestrado, desenvolvida na linha de pesquisa Cultura Escrita: linguagens e aprendizagem, do Programa de Pós-graduação em Educação (FAE/UFPel), trata da construção de novas experiências educativas para o ensino da Sociologia, a partir do contato com alguns aspectos da tradição cultural do município de Bagé (Rio Grande do Sul). Com base nos trabalhos desenvolvidos no interior do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Imaginário, Educação e Memória (GEPIEM), tomo como referencial teórico os estudos do campo do Imaginário, dentre eles a fenomenologia poética de Gaston Bachelard, a ciência do homem e da tradição de Gilbert Durand e a Sociologia do Cotidiano de Michel Maffesoli. A problemática desta investigação é identificar de que modo o ensino da Sociologia pode contribuir para o processo de reencantamento do mundo e da educação. Para isso, utilizo-me de práticas de (auto)formação em experiências imersivas, próximas de uma mística do ensino, que contemplem a atenção imaginante (Gaston Bachelard) na produção de narrativas visuais (fotografias) de Bagé. O trabalho se desenvolve em três etapas metodológicas: do estranhamento, do entranhamento e da convergência. Na primeira etapa, medito sobre as imagens de experiências pessoais que me levaram ao tema desta pesquisa. É o momento em que exponho as representações simbólicas e imaginárias que fomentam minha atividade como professor-pesquisador e como habitante da cidade de Bagé. Na segunda parte, apresento a construção de um projeto de formação voltado para os estudantes do IFSul Campus Bagé, chamado Narradores de Bagé. Nesse momento, os estudantes são estimulados a adentrarem o cotidiano do município a partir de temas e espaços da cultura popular e ancestral das comunidades tradicionais. A comunidade escolhida para apreciação das narrativas visuais, construídas por mim e por estudantes, é a da região do Rincão do Inferno, situada no Quilombo de Palmas (Bagé RS). Por fim, a terceira etapa metodológica representa a confluência das etapas anteriores, em direção à síntese do trabalho. Nesse momento, o professor-pesquisador coloca em prática a atenção imaginante de si e do seu próprio fazer docente, investindo na ficcionalização da educação e da própria pesquisa, em direção ao reencantamento do mundo. Com o auxílio do método fenomenológico, sob influência de Gaston Bachelard, extraí núcleos simbólicos que remetem aos temas mais recorrentes de cada uma das três etapas metodológicas: Retorno, Enraizamento, Laço e Tradição. O resultado aponta para a importância das narrativas visuais e da atenção imaginante para a construção de uma mística do ensino em Sociologia, em consonância com os elementos do reencantamento do mundo: enraizamento ao tempo e ao espaço circundante, remitologização, poder do ritual e do feitiço , intuição do instante, agir cotidiano, laços comunitários, momentos de partilha, entusiasmo primordial, romantismo das ideias. A atenção imaginante, despertada pelo uso das narrativas visuais, representou a adesão dos estudantes e do professor-pesquisador aos espaços da tradição bageense, ajudando a exercitar uma sociologia da imaginação poética. A atenção imaginante, portanto, reduziu os elementos lógicos, racionalizantes e utilitários do ensino da Sociologia e aumentou os aspectos lúdicos, indiretos, oníricos e espontâneos, indispensáveis também para a construção do conhecimento.