Políticas inclusivas: desafios à prática e à identidade docente
Resumo
O presente trabalho baseou-se em narrativas orais de docentes dos anos iniciais do ensino fundamental da rede municipal da cidade de Pelotas, que vivenciam em suas
práticas a experiência de inclusão de crianças portadoras de necessidades especiais. Tendo como pano de fundo as políticas inclusivas, foram problematizados, neste
estudo, os desafios que por estas são postos à prática e à identidade docente. Dessa forma, foram objetivos deste trabalho investigar como professoras da rede pública do
ensino municipal de Pelotas vivenciam suas práticas pedagógicas com alunos/as especiais, verificando de que forma as mesmas compreendem e recontextualizam, na
prática, as políticas educacionais inclusivas e identificando como o trabalho com alunos/as especiais tem influência sobre as identidades docentes. Para a realização deste estudo, utilizei como referência os textos legais pertinentes ao tema de pesquisa e os estudos de Stuart Hall sobre representações e identidade; os de Basil Bernstein sobre recontextualização; os de Stephen Ball sobre políticas educacionais e
subjetividade; os de Antonio Nóvoa referentes ao trabalho docente; e os estudos de Maurice Tardif e Claude Lessard sobre o trabalho docente e os saberes da docência. A
pesquisa empírica mostrou que as práticas das professoras com alunos/as especiais apresentam singularidades características do tempo de carreira de cada uma, cujas
variações ocorrem em função do entendimento de como são constituídos os saberes da prática docente e a clareza e/ou indefinição da prática pedagógica, revelando, por vezes, um movimento contraditório entre o saber e o fazer, evidenciando como as políticas podem ser descontextualizadas e recontextualizadas, sobretudo no campo das práticas curriculares. Demonstram que suas identidades docentes estão em constante processo de construção/desconstrução/reconstrução e, no decorrer de suas narrativas, apesar de terem evidenciado estar submetidas a pressões e contradições, não demonstraram ter compreendido a relação existente entre as inovações incorporadas ao trabalho docente, sua intensificação e o comprometimento de seus tempos e subjetividades pelo contexto escolar com as exigências das recentes políticas
educacionais, principalmente, as relativas à inclusão escolar de crianças especiais. Tampouco pareceram perceber a relação entre essas políticas e os discursos que interpelam o professorado. Enfim, lidar com o/a diferente, conduz a uma identidade docente aflita, submetida a uma procura incessante por caminhos e referenciais mais seguros, pelos quais possam ancorar com mais sentido e significado as suas identidades.