História e Sociologia das Práticas de Leitura: a trajetória de seis leitores oriundos do meio rural
Abstract
Esta tese tem como tema o estudo da trajetória de leitores oriundos do meio rural, com o objetivo principal de compreender o desenvolvimento das práticas de leitura através da análise das estruturas individuais, ao investigar: a) as circunstâncias sociais do passado que contribuíram no processo de incorporação da disposição à leitura; b) os meios e os modos de ler e a apropriação da leitura de seis atores rurais. Os pressupostos teóricos que nortearam a análise estão vinculados aos estudos da história da leitura, a partir do que propõe o historiador Roger Chartier, e aos conceitos da sociologia da leitura e da cultura, discutidos por Bernard
Lahire. A investigação foi realizada com indivíduos moradores na região sul do Estado do Rio Grande do Sul, reconhecidos na localidade onde residem como leitores assíduos. Trata-se de
seis leitores, quatro homens e duas mulheres, que nasceram e cresceram no meio rural, possuem pouca escolarização, têm mais de 70 anos de idade, e leem cotidianamente, de forma
não profissional. O aporte metodológico esteve vinculado à proposta da sociologia à escala individual, na qual o indivíduo deve ser investigado profundamente, de modo a apreender a
pluralidade interna dos indivíduos singulares. Sendo assim, foram realizadas de quatro a seis entrevistas em profundidade com cada um dos leitores investigados. Ao analisar a trajetória
destes leitores foi possível esboçar uma imagem das práticas de leitura no mundo social, evidenciando o leitor como indivíduo singular no campo social, permeado por relações de
sociabilidade que o constituem. Neste sentido, os resultados desta pesquisa demonstraram que diferentes instâncias de socialização contribuem no processo de incorporação da disposição leitora, e que os leitores vivenciam diferentes relações com a leitura durante a trajetória de vida, por estarem submetidos a forças interna (disposições) e a forças externas (contextos) que interferem na ação. Em relação às maneiras de ler, a análise evidenciou práticas de leitura
silenciosas e extensivas, ou seja, leituras solitárias e em silêncio, de um significativo número de textos, com exceção da prática de leitura de uma leitora da Bíblia . Ao que se refere aos modos de apropriação dos textos, foi possível perceber disposições ético-práticas, nas quais se pressupõe uma participação, uma identificação com o texto lido, vinculada a identidade sócio-histórica dos leitores.