Arando a terra, registrando a vida: os sentidos da escrita de diários na vida de dois agricultores
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar os sentidos da cultura escrita no cotidiano de dois agricultores com pouca escolaridade, moradores da zona rural dos municípios de Pelotas e Morro Redondo (Rio Grande do Sul, BR). A pesquisa consiste em compreender e analisar a escrita ordinária de diários dos irmãos Aldo Schmidt, 60, e Clemer Schmidt, 56. Aldo iniciou suas escritas em 1972, enquanto era solteiro e morava na casa paterna. Em 1976, casou-se, constituiu família e continuou escrevendo diários com a nova família, prática que exerce até os dias atuais. Já o irmão Clemer escreveu diários de 1975, enquanto solteiro, na casa do pai, até 1979, quando se casou e parou de escrever. A metodologia utilizada nessa pesquisa é a análise conjunta dos cadernos de registros diários e da história oral, obtida através de entrevistas semi-estruturadas. Os registros nos diários se referem à organização do trabalho no cotidiano rural, bem como a aspectos referentes ao clima, ao lazer e a acontecimentos sociais da vida dos agricultores. A pesquisa mostra que a motivação para as escritas era o trabalho na lavoura, embora o conteúdo dos cadernos diga respeito à vida privada e pública da família, demonstrando que os registros ultrapassam a esfera do trabalho e atingem outros sentidos: uma forma de existir no cotidiano, deixar as marcas do passado para trazê-lo no presente. O trabalho procura trazer contribuições à História da Educação, especialmente à História da Cultura Escrita, tratando as escritas como uma prática cultural fruto da organização de uma sociedade.