A recontextualização do discurso pedagógico da alfabetização construtivista por alfabetizadoras formadas na FaE/UFPel
Resumo
Esta pesquisa teve como objetivo compreender como as professoras alfabetizadoras que realizaram o Curso de Pedagogia na FaE/UFPel no período compreendido entre os anos de 1986 a 2005 recontextualizam o discurso pedagógico alfabetizador construtivista. A pesquisa, de caráter qualitativo, foi desenvolvida com cinco professoras alfabetizadoras que atuavam na rede pública municipal de ensino de Pelotas há mais de três anos. Uma delas concedeu apenas uma entrevista pelo fato de não estar mais atuando em classes de alfabetização. As outras quatro professoras que fizeram parte da investigação concederam duas entrevistas e tiveram suas práticas acompanhadas no ano de 2010. Três professoras também disponibilizaram seus diários de planejamento para análise. A partir da teoria da alfabetização construtivista, dos textos pedagógicos produzidos pelos formadores e das práticas pedagógicas das alfabetizadoras, constituiu-se três campos do discurso pedagógico alfabetizador construtivista. O primeiro foi denominado como campo primário de produção do discurso alfabetizador construtivista. Foram construídos cinco indicadores que caracterizam uma prática pedagógica alfabetizadora construtivista. Estes indicadores serviram de base para a análise dos dados. O segundo campo constituído na Tese foi o campo secundário de reprodução do discurso alfabetizador construtivista, composto fundamentalmente pelos agentes e agências de formação superior das pesquisadas. Para a constituição deste campo analisou-se currículos, planos de ensino, programas das disciplinas que compuseram os currículos do período analisado, especialmente as referências bibliográficas. O terceiro campo constituído nesta Tese foi o das práticas pedagógicas das professoras alfabetizadoras. A análise da recontextualização se deu através das regras de recontextualização. Analisou-se as práticas a partir dos conceitos de classificação e enquadramento do discurso pedagógico. A partir dos dados analisados é possível perceber, como mostrou Bernstein (1996), que o discurso ao passar de um campo para outro é descontextualizado e recontextualizado pelas diferentes influências e disputas que são estabelecidas no novo contexto. Conclui-se que a recontextualização secundária produzida na Faculdade de Educação da UFPel constitui-se como um elemento de efetiva produção de um novo texto, gerador de novas práticas alfabetizadoras e criador de um discurso que, se por um lado apresenta características relacionadas à teoria alfabetizadora construtivista, por outro, é um produto desse processo de recontextualização. A pesquisa encontrou diferentes discursos pedagógicos alfabetizadores. Por um lado, as professoras alfabetizadoras pesquisadas não seguem um método de alfabetização, como faziam as professoras há algumas décadas atrás. Por outro lado, as professoras também não seguem uma pedagogia da alfabetização construtivista, paradigma condizente com seu tempo de formação. A herança pedagógica configura-se como sendo muito forte, a despeito da formação em nível de graduação. Assim, nenhuma prática de alfabetização observada segue um método de alfabetização analítico ou sintético, mas todas cultivam em suas práticas atividades que se relacionam diretamente com esses métodos considerados tradicionais na história da alfabetização.