Docência em Artes Visuais: continuidades e descontinuidades na (re) construção da trajetória profissional.

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Data
2009-09-17Autor
Biasoli, Carmen Lúcia Abadie
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Esta pesquisa discute a problemática da profissão docente em Artes Visuais a partir do estudo do ciclo de vida profissional, ou seja, do ciclo vital pelo qual passam os professores. Assim, teve como objetivo investigar as continuidades e escontinuidades na (re) construção da trajetória profissional de docentes de Artes Visuais, defendendo a idéia de que aspectos significativos da vida pessoal e profissional e o momento docente em que se encontram os professores interferem tanto na construção dessa trajetória quanto para uma melhor compreensão da pessoa do professor e, como conseqüência, da sua atuação docente. No campo do ensino das Artes Visuais, esta tese igualmente reconstrói a história das instituições responsáveis pelo ensino da Arte em nosso país, enfocando mais precisamente o caso do atual Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), cuja criação remonta a 1949. A tese está assentada em diferentes pesquisas sobre trajetórias biográficas, incluindo
as que abordam as fases da carreira do professor (centradas nos anos de experiência profissional), e os ciclos de vida, indicando a dimensão pessoal como fundamental no processo pelos quais os professores se constroem e dinamizam seu trabalho, deixando claro que o aperfeiçoamento profissional está associado ao desenvolvimento pessoal, ou faz parte dele. Ademais, são trazidas contribuições de autores que investigam o trabalho docente, especialmente os que tratam da profissionalização, do desenvolvimento profissional e dos saberes docentes, bem como de investigadores que analisam a escola como produtora de cultura. A abordagem metodológica é a biográfico-narrativa, que possibilita aos professores falarem sobre o que conhecem e fazem, o que faziam ou o que poderiam ou deveriam fazer, ou seja, permite a explicitação das dimensões do passado que pesam sobre as
situações atuais e sua projeção em formas desejáveis de ação. Os professores que participaram da pesquisa exercem a docência na rede municipal de Pelotas e atuam na
área de Artes Visuais, todos formados pelo IAD. O estudo assume um caráter quantiqualitativo, ao combinar questionário com entrevista. O questionário envolveu 40
professores e possibilitou conhecer características e expectativas formativas comuns no coletivo. A entrevista foi realizada com 7 professores, formados em diferentes etapas do
curso de formação docente (conforme as mudanças da legislação educacional) e com distintos tempos de atuação no magistério, permitindo compreender aspectos relativos
à escolarização; escolha da profissão com seus fatores determinantes e expectativas; trajetória acadêmica com suas influências; lembranças e formação prática de ensino;
carreira docente, com seus primeiros anos; se o fato de ser mulher/homem afetou a carreira; exercício da docência, anterior e atual. Para melhor compreensão da trajetória
docente, a partir da análise das entrevistas foram criados os caminhos biográficos, aqui denominados de biovias. Outro elemento usado para complementar as entrevistas e
análise de dados biográficos foram Imagens Viajantes de obras de Arte solicitadas aos professores, escolhidas por eles para significar o momento atual em que estão vivendo.
Para a elaboração das fases partiu-se do princípio de que os anos de carreira são significativos para definir o início da primeira fase, denominada de impacto (1-6 anos),
mas não foram balizadores do seu término, porque os acontecimentos vividos pelos professores, tanto na escola quanto na vida pessoal, foram determinantes para uma
mudança de fase. Já a aproximação da segunda fase, a de personalização (7-12 anos), justificou se porque os professores definiram um estilo pessoal de ensinar Artes
Visuais para turmas de níveis diversificados e escolas com realidades diferentes, o que requer tempo e maturidade, sem descartar uma mudança mais rápida provocada por um ou outro tipo de acontecimento, um momento crítico enfrentado pelo professor. A fase de alternância (13-18 anos) correspondeu a um período no qual o tempo de atuação possibilitou ao professor uma maior compreensão do sistema educacional e da docência, do que pode ou não, do que quer ou não fazer, o professor permitiu-se optar.
Já a proximidade com o final da carreira determinou a fase de individualização (19-25 anos), responsável pelo distanciamento do professor dos problemas educacionais e
pela busca de satisfação pessoal. Deste modo, os anos de docência são considerados significativos na trajetória
profissional, mas não são definidores das fases, pois as narrativas dos professores comprovam que as fases se mesclam constantemente - ou não - e uma não afasta nem
elimina a possibilidade de outra. Portanto, as modificações nas fases da vida dos professores são ocasionadas pelas condições de tempo e lugar determinados, ocorreram pelas oportunidades e limitações vividas por cada um deles; o
entrecruzamento das histórias pessoais e das trajetórias profissionais nesses diferentes espaços e tempos configuram uma singularidade na prática docente desses professores. Embora todos tenham passado, de um modo geral, por fases similares da carreira docente, ficou evidente que cada um tem uma história de vida e trajetória profissional singular, cada um tem uma trajetória subjetiva específica, cada um deles é
único. Por fim, pode-se dizer que a compreensão dos ciclos de vida, através das fases da carreira docente, entrecruzando histórias pessoais e trajetórias profissionais em diferentes espaços e tempos da prática docente, possibilita pensar alternativas e incentivar propostas de inovação para a formação docente inicial e continuada.