A produção de subjetividade no modo de atenção psicossocial
Abstract
A reforma psiquiátrica brasileira propõe mudanças paradigmáticas significativas no seu modo de relacionar-se com a loucura e operacionalizar o trabalho nos Centros de Atenção Psicossocial. O modo de atenção psicossocial envolve mudanças de concepção sobre o cuidado, com o foco na pessoa que sofre e sua subjetividade. Os serviços constituem-se em espaços de cuidado, resgate e reinserção das pessoas
em seu mundo relacional e social. Neste contexto, o presente estudo procura analisar a potencialidade de produção de subjetividade, na dinâmica de trabalho no Centro de Atenção Psicossocial da cidade de Alegrete-RS. Caracteriza-se como um estudo de caso, com abordagem de pesquisa qualitativa, que utiliza como referencial teórico o paradigma do modo psicossocial, as concepções de subjetividade de Deleuze e Guattari, e os conceitos de Foucault sobre as relações de poder e a micropolítica da dinâmica de trabalho. Os dados utilizados fazem parte de um recorte da pesquisa intitulada Avaliação dos Centros de Atenção psicossocial da região sul do Brasil II, o qual se constitui de um estudo quantitativo e qualitativo de avaliação de serviços. Esta dissertação de mestrado é um estudo qualitativo a partir dos dados do campo de Alegrete Rio Grande do Sul. Como instrumentos de coleta
de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada realizada com 11 usuários e 21 trabalhadores, a observação de campo, com um roteiro pré-definido e registro em diário de campo num total de 253 horas. Os dados foram coletados em julho e
agosto de 2011, em um serviço de Centro de Atenção Psicossocial do município de Alegrete. Utilizou-se a análise temática, para a leitura dos dados. Observou-se movimentos importantes de construção de práticas e dinâmicas de trabalho na perspectiva do paradigma psicossocial, bem como aspectos micropolíticos que possibilitam processos de implicação subjetiva para usuários e trabalhadores partindo da dinâmica estabelecida na operacionalização do trabalho. Estas relações
apresentam ainda aspectos limitadores para o protagonismo, autonomia e independização, com a manutenção de procedimentos rígidos, hierarquizados e tutelares. A presença de especialismos e do saber-poder, colocam-se de forma a
interromper os processos de horizontalização das relações no contexto do serviço. As resistências produzidas pelos diversos movimentos criados para o enfrentamento do preconceito em relação à loucura, na criação de outras possibilidades
existenciais, de forma a promover um reposicionamento subjetivo para todos os atores envolvidos, usuários e trabalhadores, indicam processos de produção de subjetividade singularizada. Espera-se com este estudo contribuir para o
desenvolvimento de processos de mobilização, inovação e diferenças no modo psicossocial de cuidar, estimulando a diversidade, multiplicidade e heterogeneidade nos coletivos implicados neste campo.