A autonomia dos usuários de um Centro de Atenção Psicossocial nas relações cotidianas
Abstract
A autonomia incide na condição de autodeterminação e autogoverno. Considerando esta assertiva, o presente estudo teve como objetivo reconhecer manifestações das autonomias atitudinal, funcional e emocional na expressão das relações cotidianas dos usuários de um CAPS do município de Alegrete-RS. Trata-se de um estudo qualitativo, descritivo e analítico. Os sujeitos foram 11 usuários. A coleta de dados ocorreu através de entrevistas realizadas no segundo semestre de 2006. Os dados foram analisados à luz do referencial teórico, que compreende as autonomias atitudinal, funcional e emocional. Com relação à autonomia atitudinal, observa-se
que há por parte dos usuários a manifestação das principais aptidões e desejos nas atitudes nos âmbitos do autocuidado, no estabelecimento de relações interpessoais e para o trabalho. A autonomia para o autocuidado aparece, sobretudo, na expressão das práticas com relação à higiene, ao cuidado com a saúde do corpo e ao envolvimento de alguns usuários para que não deixe de haver o fornecimento
continuado dos psicofármacos pelo Sistema Único de Saúde a todos aqueles que os utilizam. A autonomia atitudinal para estabelecer relações interpessoais pôde ser apreendida através do exercício do desejo e da decisão de com quem , em que situações e como se relacionar, intervir ou manejar situações . A autonomia atitudinal para o trabalho emerge no contexto do trabalho protegido nas oficinas,
quando o trabalho se dá no espaço do CAPS. Acerca da autonomia funcional, observa-se que a maioria dos sujeitos mostra-se capaz de tomar decisões por si só e de traçar estratégias para alcançar e concluir metas. Nesta pesquisa, a
funcionalidade caracteriza-se por manter uma regularidade, permitindo que as situações de tomada de decisão se repitam no cotidiano da vida, enquanto que a atitudinalidade é uma manifestação esporádica ou mesmo singular. O autocuidado é
retratado por meio de práticas sistemáticas de cuidado com a saúde do corpo, pela manutenção do tratamento psiquiátrico e pela possibilidade de manter fluida a funcionalidade das condutas cotidianas através do benefício que muitos usuários
recebem do governo. A autonomia para cuidar dos afazeres domésticos também foi evidenciada nos discursos. Relações de cuidado cotidiano com o outro, bem como a condição de ser capaz de circular pelo território em busca de estabelecer ou manter relações de amizade e de troca também foram observadas como condições importantes de exercício da autonomia funcional. A autonomia para a prática do trabalho aparece sob diferentes níveis conforme a condição de independência na 7 qual os sujeitos se encontram, oscilando desde a situação de realização de trabalho assistido, em ambiente protegido e com intuito terapêutico, até a de exercício de trabalho formal e assalariado. A autonomia emocional também é um atributo presente nos relatos, denotando a condição de autoconfiança e independência
emocional em relação a outras pessoas. Essa condição aparece sob a forma de autovalorização e estabelecimento de relações solidárias, alimentadas pela autoconfiança e autoeficácia. Conclui-se, portanto, que o objetivo da pesquisa está contemplado nos depoimentos, de maneira que as autonomias supramencionadas se fizeram presentes nas relações cotidianas dos onze sujeitos estudados.