Análise sazonal do regime hídrico do Rio Grande do Sul no período de 1977 a 2006: impacto de sistemas meteorológicos no regime hídrico do Estado em 2006
Abstract
O regime hídrico de uma região é determinado pela disponibilidade de água no solo
(deficiência ou excesso), que pode ser estimada com aceitável precisão, utilizando
variáveis como precipitação (entrada de água no solo) e evapotranspiração (saída
de água do solo), através de um sistema de balanço hídrico. Como o Rio Grande do
Sul (RS) apresenta uma variabilidade espacial significativa de precipitação anual,
uma vez que na Metade Sul é inferior à da Metade Norte do Estado, o objetivo geral
deste trabalho foi determinar e analisar sazonalmente os balanços hídricos
climatológicos (BHC) para a Metade Norte e Metade Sul do RS, no período de 1977
a 2006. Mais especificamente, pretendeu-se analisar o impacto dos sistemas
meteorológicos (SM) no regime hídrico do RS no ano de 2006. Foram utilizados,
para o cálculo dos BH, dados mensais de temperatura média e precipitação pluvial
do período de 1977 a 2006, obtidos no Instituto Nacional de Meteorologia - INMET
(8° Distrito de Meteorologia) de 16 estações meteor ológicas distribuídas nas
diferentes regiões ecoclimáticas do Estado. O método proposto por Thornthwaite e
Mather (1955) foi utilizado para calcular os BHC e para calcular a evapotranspiração
utilizou-se o método de Thornthwaite (1948). Para a análise do impacto dos SM no
regime hídrico do RS no ano de 2006 utilizaram-se dados obtidos nos Boletins
Climanálise, no banco de dados da defesa civil do RS e imagens do satélite GOES-
12 (Geostationary Operational Environmental Satellite) fornecidas pelo Centro de
Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais CPTEC/INPE. Os resultados para o período de estudo (1977 a 2006)
mostraram que a distribuição de precipitação no RS foi bastante uniforme nos quatro
períodos do ano, com registro de maior volume pluviométrico na Metade Norte do
Estado. Observou-se que a Metade Norte do RS apresenta excesso hídrico durante
todo ano, devido aos maiores índices pluviométricos associados a menores índices
evaporativos. Já na Metade Sul foram observados déficits hídricos em JFM e OND,
mas estes foram inferiores aos excessos hídricos, portanto não ocorre falta de água.
Em 2006 na Metade Norte do RS não ocorreu falta de água, apesar da ocorrência
de déficits hídricos nos trimestres de JFM, AMJ e OND, uma vez que estes foram
inferiores aos excessos hídricos. Na Metade Sul, em 2006, a menor disponibilidade
de água e a maior deficiência hídrica em relação às condições normais, causaram falta de água em JFM e o no litoral em OND. Os fatores que contribuíram para a
ocorrência de excedentes hídricos superiores aos déficits hídricos durante o ano de
2006 na Metade Norte e falta de água na Metade Sul do RS em JFM e no litoral em
OND, foram: a maior frequência de sistemas convectivos de mesoescala (SCM) e de
eventos com condições de tempo severo na Metade Norte do RS em relação à
Metade Sul; a menor frequência de SF neste ano na Metade Sul do RS em relação à
normal climatológica do período de 1977 a 2006 e a atuação do fenômeno ENOS
cuja configuração em 2006 provocou estiagem na região sul do Brasil e, portanto
precipitação abaixo da normal em todos os trimestres do ano.