Dor dental: determinantes e impactos em escolares do sul do Brasil
Resumen
Apesar do declínio observado na ocorrência de problemas bucais, estudos na população escolar tem revelado que a dor de origem dentária ainda é um problema de alta prevalência, podendo gerar impacto negativo na qualidade de vida dos
indivíduos e na sociedade. Frente a relevância do tema e por existirem poucos trabalhos que avaliem epidemiologicamente o fenômeno da dor, este estudo transversal teve como objetivo avaliar o relato de dor dentária em uma amostra de base escolar no sul do Brasil e testar a associação deste problema com características socioeconômicas, demográficas, psicossociais e clínicas. Também, visou avaliar as conseqüências da dor dental na percepção da saúde bucal e o
impacto na vida diária das crianças. Uma amostra mínima de 922 crianças foi estimada. A amostra, aleatória e estratificada, foi selecionada através da técnica de conglomerado em duplo estágio e avaliada em 20 escolas localizadas na zona
urbana da cidade de Pelotas/RS no ano de 2011. A coleta de dados foi composta de aplicação de questionário aos pais, para obtenção de variáveis socioeconômicas; de entrevista com as crianças, incluindo informações sobre estrutura familiar, sobre a ocorrência de dor dental no último mês e nos últimos seis meses que antecederam a entrevista, sobre medo odontológico e sobre a percepção de sua saúde bucal; e de
exame clínico bucal das crianças, que foram avaliadas em relação à cárie, traumatismo dentário e maloclusão. Os dados foram duplamente digitados no programa EpiData 3.1 e analisados usando-se o programa Stata 12.0. Foi realizada
análise descritiva para obter a prevalência da variável de interesse. Após, a associação entre dor dentária e variáveis independentes foi testada utilizando análise bivariada. Para investigar a associação independente das exposições na
ocorrência de dor dentária foi realizada análise de regressão de Poisson, estimandose as razões de prevalência (RP) e seus respectivos intervalos de confiança (IC95%). As variáveis independentes foram ordenadas em um modelo hierárquico,
que determinou sua entrada na análise estatística. Foram incluídas na amostra 1199 crianças, com idade entre 8 e 12 anos. A prevalência de dor dental foi de 35,7% (IC95% 33.0-38.5) nos últimos seis meses. Após ajustes, uma maior prevalência de dor dental foi observada em crianças oriundas de famílias com menor renda (RP=1.39; IC95% 1.10-1.76), no sexo feminino (RP=1.24; IC95% 1.06-1.46), em
crianças que viviam em casas superlotadas (RP=1.23; IC95% 1.01-1.49), que reportaram medo odontológico (RP=1.19; IC95% 1.00-1.42), e em crianças que
tiveram experiência de cárie dentária (RP=1.57; IC95% 1.34 1.84). A presença de dor dental influenciou a percepção de saúde bucal dos escolares (RP=2.56; IC95% 1.55-3.29) e impactou sua vida diária (RP=1.89; IC95% 1.64-2.17). Conclui-se que uma alta porcentagem de escolares sofre de dor dental, e que este problema, que se mostrou influenciado por características demográficas, socioeconômicas, psicossociais e clínicas, causa impactos negativos na percepção de saúde bucal das crianças