Helmintos e ácaros nasais parasitos de Pitangus sulphuratus (Passeriformes: Tyrannidae), bem-te-vi, no Rio Grande do Sul
Abstract
O bem-te-vi, Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) (Tyrannidae), ocorre apenas nas Américas, distribui-se dos Estados Unidos (Texas) até a Argentina. É a espécie de pássaro mais popular do Brasil e do Rio Grande do Sul (RS), sendo facilmente reconhecido pelo seu canto onomatopéico, sua coloração viva e comportamento agressivo na disputa de território e guarda do ninho. Estas aves podem ser encontrados em uma ampla variedade de habitats, como campos de culturas, cidades, pomares, orla de matas e em ambientes aquáticos, tais como margens de lagoas, córregos, rios e represas. Apresentam habilidades para identificar alimentos em ambientes naturais e em explorar recursos alimentares de origem antrópica, o que contribui para sua eficiência em colonizar ambientes urbanos e sua abundância em vários ambientes. O bem-te-vi é consideradauma
espécie onívora, e sua flexibilidade alimentar pode influenciar na sua helmintofauna, uma vez que a maioria dos parasitos gastrointestinais é adquirida através da ingestão de alimentos. Devido a escassez de informações sobre a biodiversidade parasitária de P. sulphuratus, desenvolveu-se este trabalho com o objetivo de conhecer a helmintofauna e ácaros nasais parasitos do bem-te-vi, bem como determinar os parâmetros de prevalência, abundância média e intensidade média de parasitismo. Foram examinados 78 espécimes de P. sulphuratus
provenientes de municípios do RS, dos quais alguns vieram ao óbito no Núcleo de Reabilitação da Fauna Silvestre e Centro de Triagem de Animais Silvestres (NURFS/CETAS/UFPel) e outros recolhidos mortos por atropelamento nas rodovias. No Laboratório de Parasitologia de Animais Silvestres, Departamento de Microbiologia e Parasitologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas, as aves foram necropsiadas para coleta de helmintos e ácaros nasais.
Os helmintos encontrados e respectivos parâmetros de prevalência (P), abundância média (AM) e intensidade média (IM) foram: Dispharynx nasuta (P= 3,85%, AM=0,10, IM=2,66), Acuaria mayori (P= 7,69%, AM=0,18, IM=2,33),representantes da subfamília Capillariinae (P= 10,26%, AM=0,22, IM=2,12),
Eucoleus sp. (P= 10,26%, AM=0,38, IM=3,75), Aproctella sp. (P= 6,41%, AM=0,08, IM=1,2), Syngamus sp. (P= 7,69%, AM=0,26, IM= 3,33), Lophosicyadiplostomum nephrocystis (P= 14,10%, AM=3,18, IM=22,54), Lutztrema sp. (P= 3,85%, AM=0,08, IM=2), Echinostoma sp. (P= 2,56%, AM=0,15,
IM=6), Centrorhyncus spp. (P= 48,72%, AM=3,87, IM=7,95) e representantes da ordem Cyclophyllidea (P= 2,56%). Os ácaros nasais encontrados foram Ptilonyssus spinosus com 12,82% de prevalência, AM=1,13, IM=8,8, razão sexual
4:2, ♀/♂ e Sternostoma longisetosae, 5,13%, 0,13 e 2,5, respectivamente, todos os exemplares eram fêmeas. A associação parasitária entre essas duas espécies de ácaros foi observada em apenas uma ave. Este achado caracteriza o primeiro relato de P. spinosus e S. longisetosae em P. sulphuratus e amplia a distribuição geográfica destas espécies, sendo a primeira ocorrência de S. longisetosae na região neotropical e primeira citação de P. spinosus no Rio Grande do Sul, Brasil. Pitangus sulphuratus caracteriza um novo hospedeiro para os helmintos Dispharynx nasuta, Acuaria mayori, Capillariinae, Eucoleus sp., Aproctella sp., Syngamus sp. (Nematoda), Lutztrema sp. e Echinostoma sp. (Trematoda). Amplia-se a área de conhecimento de ocorrência de A. mayori, e L. nephrocystis para o estado do Rio Grande do Sul.