Leishmaniose visceral canina: Investigação clínica, laboratorial e epidemiológica em cães de canis de doze municípios do Rio Grande do Sul
Abstract
A Leishmaniose Visceral Canina (LVC) é uma zoonose de caráter crônico, sistêmica, que acomete diversos mamíferos, causada pelo protozoário Leishmania (Leishmania) chagasi, que é transmitido pela hematofagia da fêmea do flebotomíneo Lutzomyia longipalpis. A LVC apresenta ampla distribuição geográfica, e com alto potencial de letalidade. O Rio Grande do Sul era considerado um estado do Brasil sem casuística da doença, ou seja, não endêmico. Porém, em 2008 foram registrados casos autóctones de LVC em municípios de região oeste do estado. O objetivo deste estudo foi realizar um levantamento da presença de cães soropositivos em canis de doze municípios do Rio Grande do Sul, considerando os aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais, comparando métodos e protocolos de diagnóstico. Com isso, pode-se detectar precocemente uma possível disseminação da doença, incentivando campanhas de controle e prevenção, evitando assim futuros surtos. Este estudo foi realizado em uma área do RS sem diagnóstico para LVC, sendo avaliados o total de 165 cães provenientes dos municípios de Alegrete, São Francisco de Assis, Santiago, Dom Pedrito, Bagé, Caçapava do Sul, Cachoeira do Sul, Piratini, Arroio Grande, Capão do Leão, Rio Grande e Camaquã. Os animais foram submetidos à avaliação clínica geral, sendo observadas principalmente lesões tegumentares e linfoadenopatias. Na avaliação laboratorial, realizou-se hemograma completo, exame parasitológico e sorológico. Os achados clínicos de cada animal e os resultados das técnicas laboratoriais foram submetidos a análise estatística no programa EpiInfo versão 6.04. Sinais dermatológicos, anemia normocítica normocrômica, alterações plaquetárias e leucocitose com neutrofilia foram apresentados pelos animais sororreagentes. A pesquisa sorológica foi realizada através das técnicas de Imunofluorescência Indireta (IFI), ensaio imunoenzimático (ELISA) e Dual Plate Plataform (DPP). Constatou-se taxa de 33,94% (56/165) na IFI, 6,67% (11/165) no DPP, 3,03% (5/165) na IFI e DPP e 6,06% (10/165) no ELISA. Destes confirmados no ELISA, cinco (5/10) foram reagentes na IFI, e apenas três (3/10) foram positivos no DPP, resultando em três cães soropositivos conforme o protocolo atual preconizado pelo Ministério da Saúde. A comparação das técnicas sorológicas demonstrou que DPP e IFI isoladamente apresentaram uma Acurácia de 65,45%. Já na análise dos mesmos testes quando se considerou o teste de ELISA como padrão ouro, a Acurácia do DPP foi de 90,91% e a da IFI 66,06%. Entretanto, quando se considerou somente resultados positivos no DPP e IFI, a Acurácia aumentou para 94,55%, com um valor de Kappa=0,375, ou seja, com concordância considerável. Conclui-se que a pesquisa em áreas sem diagnóstico do RS, revelou presença de cães sororreagentes em quatro municípios do RS: Cachoeira do Sul (2), São Francisco de Assis (1), Dom Pedrito (1) e Rio Grande (1).