Estudo das características fenotípicas, fatores de patogenicidade e suscetibilidade de isolados de Sporothrix schenckii frente a desinfetantes
Abstract
A esporotricose tem se destacado mundialmente nas diversas áreas da saúde como uma importante doença fúngica. Assim, este trabalho teve como objetivos: (i) estudar casos de esporotricose diagnosticados na região sul do Rio Grande do Sul num período de dez anos, (ii) estudar as características morfológicas e de patogenicidade de isolados de Sporothrix schenckii, (iii) determinar a suscetibilidade de S. schenckii a desinfetantes comerciais. Os casos de esporotricose foram analisados quanto a distribuição geográfica, forma clíinica da doença, presença do fungo em diferentes sítios anatômicos e resposta tecidual. Os 42 isolados de S. schenckii provenientes de casos clínicos, isolados do ambiente e cepas de referência utilizados no estudo fenotípico foram avaliados quanto a macromorfologia em ágar Sabouraud acrescido de cloranfenicol, ágar batata e ágar lactrimel incubados a 25ºC e 35ºC por 21 dias. A micromorfologia foi avaliada em ágar batata a 25ºC enquanto que a termotolerância foi avaliada em ágar Sabouraud acrecido de extrato de levedura 1% incubado a 41ºC por sete dias. O estudo ultraestrural dos nove isolados clínicos e duas cepas de referência de S. schenckii foi realizado por microscopia eletrônica de transmissão. A suscetiblidade de 12 isolados de S. schenckii a desinfetantes foi realizada pelas técnicas de microdiluição em caldo, difusão em agar e teste de exposição direta. Os 103 casos de esporotricose em animais demonstraram que esta é uma micose endêmica na região sul do Rio Grande do Sul ocorrendo com mais freqüência em felinos jovens e cães adultos. Os felinos desenvolveram principalmente a forma cutânea disseminada enquanto que em caninos, a forma cutânea fixa foi a mais freqüente embora tenha ocorrido em 18,2% dos caninos, a forma respiratória com ausência de lesões cutâneas. A pesquisa do fungo S. schenckii em unhas, cavidade oral, mucosa conjuntival, sangue e testículos revelou alta positividade fúngica em amostras de testículos (46,6%) e cavidade oral (45,2%). O hemograma de animais com a forma cutânea fixa não apresentou alterações nos valores hematológicos enquanto que aqueles com a forma cutânea disseminada apresentaram alterações tanto no leucograma como no eritrograma, caracterizadas por leucocitose por neutrofilia e anemia normocítica e normocrômica. A análise morfológica de 42 isolados clínicos e do ambiente de S. schenckii demonstrou diferenças macro e micromorfológicas nos diferentes meios de cultivo utilizados. Na avaliação da termotolerância obteve-se 26,2% dos isolados termotolerantes, sendo a maioria proveniente de casos de esporotricose felina. O estudo ultraestrutural revelou presença de grânulos de melanina em todos os isolados de S. schenckii originados de esporotricose canina e correlação entre presença de melanina e espessura da parede celular. A avaliação in vitro de desinfetantes demonstrou maior ação antifúngica do digluconato de clorexidina nas técnicas de microdiluição em caldo e difusão em agar enquanto que o hipoclorido de sódio apresentou melhor eficácia na técnica de exposição direta. A presença de matéria orgânica interferiu na ação antifúngica de ambos os desinfetantes, entretanto, o hipoclorito de sódio apresentou melhores resultados com inativação total da carga fúngica na ausência de matéria orgânica e redução de 60% da carga fúngica na presença desta.