A formação docente nas políticas curriculares de educação infantil: disputas por hegemonia (2009-2019)

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Data
2022-05-23Autor
Borges, Juliana Diniz Gutierres
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Mostrar registro completoResumo
Esta pesquisa de doutorado tem por objetivo investigar as articulações discursivas produzidas por variados sujeitos que disputam hegemonia em torno da formação docente na definição das políticas curriculares para a Educação Infantil, no período compreendido entre 2009 e 2019. Circunscreve, pois, o contexto de produção das Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil e da Base Nacional Comum Curricular. O estudo é desenvolvido a partir de aportes teóricos-estratégicos da Teoria Política do Discurso, do filósofo argentino Ernesto Laclau, e das incorporações realizadas pelas pesquisadoras brasileiras Alice Lopes e Elizabeth Macedo dessa perspectiva discursiva às políticas curriculares. Neste trabalho, as políticas curriculares são assumidas como práticas discursivas que operam por traduções. Estudar essas políticas a partir desse enfoque possibilita deslocamentos de articulações de sentidos e a reconfiguração de modos instituídos, desestabilizando estruturas tidas como estáveis. Frente a isso, o foco da pesquisa está nas demandas de entidades acadêmicas, organizações internacionais e de outras organizações sociais, isto é, nas reivindicações da comunidade epistêmica em termos de formação de professoras de creche e pré-escola. Integraram o corpus de análise publicações do Banco Mundial (BM), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), do Fórum Nacional dos Diretores de Faculdades, dos Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras (FORUMDIR), do Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (MIEIB), do Todos pela Educação e da Rede Nacional da Primeira Infância. O trabalho analisa as demandas pelo local e pelo tipo de formação e demandas vinculadas à identidade profissional e à prática pedagógica, com ênfase na tensão entre cuidar e educar, que tem marcado dupla identidade para as profissionais de Educação Infantil, separando-as em “professoras” e “auxiliares”. Tomando como inspiração Borges (2015), investigam-se rastros/traços/espectros que se apresentam nas formações discursivas em torno da profissionalidade docente de Educação Infantil. Assim, os esforços da investigação se centram nas práticas discursivas que condensam e deslocam certos sentidos da profissionalidade. A potência dessa discussão está na possibilidade de fazer emergir as referências, as marcas, os traços que se cruzam, se interconectam, se subvertem, que viabilizam ou mesmo bloqueiam outras interpretações da formação inicial para essa docência. Ao discutir processos de identificação da professora de Educação Infantil, por um viés pós-estrutural, é defendida a tese de que um projeto formativo específico (unificado) é um projeto identitário impossível. Diante disso, este trabalho também entra na disputa discursiva das políticas curriculares para a formação dessa docência, colocando em marcha uma compreensão do trabalho da professora de Educação Infantil como uma forma de artesanato intelectual, ou seja, como um trabalho personalizado, desprendido de fórmulas, leis ou receitas prontas. Sendo assim, esta investigação procura mobilizar outras formas de pensar percursos formativos que promovam o acolhimento das diferentes experiências humanas nas formas de cuidar, de educar, de organizar as instituições.