Duas décadas de pesquisa em Epidemiologia da atividade física em Pelotas-RS

Abstract

As evidências científicas acumuladas sobre a atividade física e seus benefícios à saúde consolidaram um robusto campo de conhecimento que cresceu ao longo dos anos no cenário científico nacional e internacional. A área que conhecemos hoje como atividade física e saúde inicia por volta de 1950 com os estudos de Jeremy Morris na Inglaterra. Nas décadas seguintes diversos estudos foram desenvolvidos, ainda que com um enfoque na aptidão física e, em seguida, as pesquisas científicas proporcionaram um melhor entendimento específico da atividade física. Estudos epidemiológicos clássicos do final da década de 1980 mostraram a importância da atividade física e materializaram-na como uma prioridade de pesquisa nos anos 90. A partir de então, ocorreu o fortalecimento das pesquisas populacionais e o surgimento de discussões sobre recomendações de prática de atividade física para a saúde. O campo de estudo originado em 1950, inicialmente sob liderança norte-americana e europeia, evoluiu gradualmente atingindo mais de mil publicações de artigos científicos anualmente e, após os anos 2000, veio firmar-se com pesquisas de todos os tipos, como os estudos de mensuração, correlatos, intervenções, consequências, recomendações, políticas e de perspectivas globais. No contexto brasileiro, as primeiras pesquisas epidemiológicas sobre atividade física começam a ser conduzidas principalmente na década de 1990. . Entretanto, apenas em 2000 foi publicado o primeiro estudo epidemiológico tendo a atividade física como a principal variável de interesse. É no início do novo milênio que ocorre o aumento expressivo de pesquisas e, a partir de então, inicia-se uma nova era das investigações em epidemiologia da atividade física no Brasil. No decorrer desses quase 70 anos, o Brasil contribuiu com a expressiva marca de 5% do total de publicações da área em todo o mundo. Foram cerca de 1200 artigos publicados nesse período, levando o país a ocupar a 4a posição no ranking mundial de produção científica nesse campo de conhecimento. O Brasil se caracterizou como o único país de renda média entre as 10 nações mais produtivas da área que contribuíram com quase 50% do conhecimento mundial sobre a temática, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, Canadá e Austrália. A relevante participação do Brasil no cenário da pesquisa em atividade física e saúde se deu de forma similar ao ocorrido com a tendência mundial, embora um pouco mais tardia do que os países precursores. Contudo, o Brasil foi a primeira nação (se não a única) a ter um periódico científico, um congresso científico e uma sociedade científica específicas da área: Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, criada em 1995; Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, iniciado em 1997; e Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde, fundada em 2008, que precederam suas respectivas versões internacionais. Além do destaque na pesquisa em seus diferentes eixos da área, o país também implementou inquéritos nacionais de vigilância e planos de políticas, em anos anteriores. O protagonismo brasileiro, em voga no novo milênio, teve seus passos marcados também ao ritmo do surgimento e desenvolvimento do grupo de Pelotas, com ênfase na epidemiologia da atividade física. Em 2003, uma pesquisa pelotense se torna a primeira a ser publicada em um periódico internacional e renomado da área. Em similitude, o pontapé inicial da área em Pelotas se dá com a publicação dos estudos em periódicos estrangeiros de relevante impacto, com pelos menos seis, dos 10 es- tudos pioneiros publicados até 2005.