Prevalência de transtornos mentais e fatores associados em crianças de 6 - 7 anos pertencentes à coorte de nascimentos de Pelotas de 2004
Resumo
Os transtornos mentais representam uma importante causa de incapacidade,
dependência e sofrimento na população, afetando 20 a 30% dos adultos em
todo o mundo. Determinantes ambientais, genéticos, biológicos e
comportamentais têm sido investigados em sua etiologia. Há cada vez mais
evidências mostrando que pelo menos 50% de todos os transtornos mentais
têm início na infância e adolescência. A grande maioria dos estudos
publicados sobre a prevalência de transtornos psiquiátricos na infância foram
conduzidos em países de renda alta, apesar de 90% da população mundial
com idade inferior a 18 anos morar em países de renda média e baixa. Esta
tese avaliou a prevalência de diferentes transtornos psiquiátricos em 3.585
(84.7% das 4.231 crianças nascidas vivas) crianças de 6 a 7 anos pertences à
Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004 e analisou a presença de
comorbidades psiquiátricas nestas crianças, a distribuição dos diferentes
diagnósticos segundo o sexo da criança e a renda familiar e posteriormente
buscou verificar possíveis fatores de risco. A avaliação da presença de
transtorno psiquiátrico nas crianças foi realizada através do Development and
Well-being Assessment (DAWBA) aplicado por psicólogas treinadas e
supervisionadas por uma psicóloga com doutorado e experiência em
pesquisas de base populacional e uma psiquiatra infantil com experiência
clínica. Observou-se que cerca de 13% das crianças apresentavam um
diagnóstico psiquiátrico segundo o DSM-IV, houve predomínio dos transtornos
de ansiedade (8,8%), dentre os quais os mais frequentes foram a fobia
específica (5,4%) e os transtorno de ansiedade de separação (3,2%). Os
transtornos de comportamento foram menos frequentes, verificou-se 2,6% de
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, 2,6% de Transtorno de
Oposição e Desafio/ Transtorno de Conduta agrupados. Encontrou-se ainda
1,3% de transtornos depressivos. Observou-se que 17% das crianças
apresentavam mais de um transtorno psiquiátrico simultaneamente. Os
meninos apresentaram maior prevalência de transtornos psiquiátricos do que
as meninas (14,7% versus 11,7%, respectivamente) e esta diferença foi
estatisticamente significativa (p = 0,009). As crianças pertencentes às famílias
com menor renda apresentaram maior probabilidade de apresentar
transtornos psiquiátricos, sendo uma chance de 1,6; 2,4 e 3,0 vezes maior de
possuir, respectivamente, qualquer diagnóstico psiquiátrico, transtornos de
externalização e Transtorno de Oposição e Desafio/ Transtorno de Conduta
comparado com aquelas crianças pertencentes às famílias mais ricas. Nossos
achados confirmam o observado em países de renda alta e ressaltam a
necessidade de estratégias precoces de prevenção de transtornos mentais
junto às famílias, especialmente aquelas de menor renda, além de alertar para
a necessidade da disponibilização de serviços que iniciem atendimento na
infância precoce.