Diagnóstico e genotipagem de Trichomonas vaginalis em mulheres no sul do Rio Grande do Sul, Brasil
Abstract
A infecção causada por Trichomonas vaginalis é globalmente, a mais comum das
infecções sexualmente transmissíveis não-virais e pode resultar em muitas
consequências adversas à saúde, durante a gravidez e, especialmente exacerbar o
contágio e a transmissão do HIV. A detecção de T. vaginalis em mulheres é
realizada através do exame a fresco, uma técnica rápida, facilmente executável e de
baixo custo. Entretanto, esse tipo de diagnóstico apresenta baixa sensibilidade,
prevalência desconhecida e muitos casos não são tratados. Além disso, pouco se
sabe sobre a diversidade genética deste protozoário, o que leva a busca pelo maior
entendimento em virtude das sequelas de saúde, resist ência medicamentosa e
novas alternativas de diagnóstico. O objetivo deste trabalho foi estudar a
epidemiologia, diagnóstico e caracterização genética de T. vaginalis em mulheres
atendidas na Faculdade de Medicina da UFPEL, no Sul do Rio Grande do Sul,
Brasil. As coletas das amostras e obtenção dos dados foram obtidas no período
entre agosto de 2015 a junho de 2019. Para o diagnóstico, as amostras coletadas
foram analisadas por exame a fresco, coloração de Gram, cultura e teste de
amplificação dos ácidos nucléicos (NAATS). As análises foram realizadas no
Laboratório de Parasitologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal de
Pelotas e na Universidade de Örebro, Suécia. Entre os resultados, destacaram-se
índices de prevalência de 4,2%, 2,4%, 1,2% e 0% usando o teste Aptima TV, cultura,
exame a fresco e coloração de Gram, respectivamente. A sensibilidade da cultura e
do exame a fresco foi de 57,1% (95%, IC 36,5 - 75,5) e 28,6% (95%, IC 13,8 50,0),
respectivamente. Para a caracterização genética, foi usado o método de Tipagem de
Sequência Multilocus (MLST) para caracterizar geneticamente 10 isolados de T.
vaginalis obtidos previamente. Foram encontrados dois tipos de populações, 20
sítios polimórficos e 22 alelos. Destes alelos, três ainda eram desconhecidos dois
alelos para os genes da proteína de reparo de pareamento incorreto do DNA e 1
alelo para o gene Manose-6-fosfato-isomerase. A alta diversidade genética e a
classificação de isolados dentro do tipo 1, chamam a atenção para maior
patogenicidade ao parasito. Evidências de recombinação genética também foram
identificadas, indicando que o protozoário pode não ser um organismo clonal. Os
achados deste estudo revelam que o exame a fresco, usado como método de
diagnóstico, detecta menos da metade dos casos, e que a população do tipo 1 do
parasito predominou em nossos isolados, precisamente o mais patogênico.