Estudo retrospectivo da doença de Chagas e seus vetores na região sul do Rio Grande do Sul, Brasil
Abstract
A doença de Chagas (DCH) causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi é
apontada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das doenças
tropicais mais negligenciadas no mundo. O Rio Grande do Sul (RS) é uma região
considerada endêmica para DCH e foi o estado brasileiro que apresentou o maior
índice de soroprevalência humana para T. cruzi. Diante disso, nota-se a importância
de avaliar a situação epidemiológica da DCH na região sul do RS, tanto em relação
à caracterização dos vetores (principais espécies capturadas, índice de infecção por
T. cruzi, locais de invasão/infestação) como a prevalência da DCH entre os doadores
de sangue e índice de mortalidade pela doença na região. A área em estudo
compreende os municípios abrangidos pela 3ª Coordenadoria Regional de Saúde
(CRS) e 7ª CRS. A pesquisa relacionada aos vetores da DCH foi baseada na análise
de dados secundários disponibilizados pelo Centro Estadual de Vigilância em Saúde
do Rio Grande do Sul (CEVS-RS). Para avaliar a prevalência de anticorpos IgG anti
T. cruzi entre os doadores de sangue na região sul, foi realizado um estudo no
Hemocentro do município de Pelotas/RS, visto que este abrange os doadores tanto
da 3ª CRS como da 7ª CRS. E quanto ao índice de mortalidade por DCH na região,
o programa consultado foi o SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade) do
DATASUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde). No período
de 2008 a 2019, na 3ª CRS, um total de 1400 triatomíneos foram capturados, os
municípios com maior número de capturas foram Canguçu (37,7%), Piratini (22,4%)
e Pinheiro Machado (15,1%). Já o município da 7ª CRS com mais captura foi Lavras
do Sul (64,2%). As espécies com maior número de exemplares encontrados foram
Triatoma rubrovaria (90,6%), seguido por Panstrongylus tupynambai (7,4%), em
ambas CRS. A região sul do RS continua apresentando importante invasão
domiciliar e dispersão de triatomíneos, sobretudo pela espécie T. rubrovaria, seguida
por P. tupynambai, sendo necessária uma maior vigilância desses vetores. Quanto à
prevalência da DCH entre os doadores de sangue na região sul, o índice de
descarte de bolsas de sangue por reações positivas ou inconclusivas para
anticorpos anti-T. cruzi, no Hemocentro Regional de Pelotas, em um período de 10
anos, foi de 0,26% (283 bolsas), e os indivíduos procedentes dos municípios de
Canguçu e Pelotas se destacam em relação ao maior número de doadores
sororreagentes para anticorpos IgG anti-T.cruzi. Em relação a mortalidade por DCH
na região sul, nos municípios contemplados pela 3ª CRS (Pelotas), ocorreu um total
de 60 (16,5%) óbitos, na 7ª CRS (Bagé), a mortalidade foi de 2,5% (9 casos). Os
municípios com maior índice de mortalidade por DCH foram: Pelotas, Canguçu, Rio
Grande e Lavras do Sul. Percebe-se que tanto a DCH, como seus vetores, seguem
tendo importância no RS, não sendo admitido descuidos no que tange a vigilância
de triatomíneos e controle sorológico nos bancos de sangue.