O Teto de vidro na universidade pública federal brasileira: relatos de reitoras
Data
2024-08-27Autor
Hubner, Cristiane Medianeira Canabarro Flores
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Embora os avanços na pauta da desigualdade de gênero e sua crescente visibilidade
na mídia e no debate público sejam inegáveis, ainda vivemos em uma sociedade onde
a igualdade entre homens e mulheres não é plena. A participação feminina nos
espaços de poder permanece limitada, persistindo a hegemonia masculina no topo
das organizações. Essa desigualdade relativa ao gênero e ao acesso das mulheres
aos altos cargos hierárquicos é definido por Steil (1997) como o fenômeno teto de
vidro, sendo uma barreira sutil e transparente, mas forte o suficiente para impossibilitar
a ascensão de mulheres aos níveis mais elevados nas organizações unicamente em
função do gênero. Nesse contexto, partiu-se do questionamento de como as mulheres
que alcançaram os mais altos cargos nas Universidades Públicas Federais Brasileiras
(cargo de Reitoras) percebem as barreiras do fenômeno em suas carreiras e na
ascensão ao cargo. O estudo investigou o teto de vidro nessas instituições, buscando,
a partir de seus relatos, entender a percepção quanto à existência dessa barreira em
suas trajetórias. Para alcançar o objetivo principal do estudo, buscou-se identificar as
principais barreiras vivenciadas pelas reitoras nas suas carreiras; investigar se os
fatores que constituem o teto de vidro afetaram o desenvolvimento de suas carreiras;
descrever como elas perceberam e enfrentaram o fenômeno e indicar ações que
possam reduzir os seus efeitos no ambiente universitário. Metodologicamente, a
pesquisa, de natureza qualitativa, baseou-se em entrevistas semiestruturadas
conduzidas via webconf. A análise das entrevistas revelou que as gestoras têm amor
pela profissão e dedicam grande parte de suas vidas aos estudos e à carreira. O apoio
familiar foi identificado como um fator crucial em suas trajetórias. Entretanto, essas
mulheres enfrentaram inúmeras dificuldades relacionadas ao gênero, como os
desafios da maternidade, relações conjugais instáveis e a discriminação de gênero. O
estudo também destacou a falsa ideia de equidade associada à carreira pública, a
discriminação de gênero está enraizada no setor público, manifestando-se por meio
de comentários depreciativos sobre a capacidade de liderança feminina. Outro ponto
revelado pela pesquisa foi a sobrecarga causada pela dupla jornada de trabalho e a
dificuldade de equilíbrio entre vida pessoal e profissional, gerando dilemas pessoais,
muitas vezes acompanhados de culpa. Mediante as sugestões das reitoras, a
pesquisa apresentou ações que podem mitigar as barreiras enfrentadas por mulheres
em cargos de liderança, incluindo: o incentivo à sororidade, a valorização da liderança
feminina e a inclusão de critérios de seleção que promovam o equilíbrio de gênero.
Como proposta de intervenção, o estudo sugeriu a implementação de uma resolução
que estabelece a igualdade de gênero na ocupação dos cargos de Direção, almejando
além de corrigir desigualdades históricas, servir como um marco no combate ao
sexismo existente na sociedade e também percebido nas universidades.