Desfecho do tratamento da tuberculose em tempos de pandemia da Covid-19 no centro de referência regional do sul do Brasil
Resumen
A reorientação das políticas públicas, que forçou os gestores a priorizar o
enfrentamento à pandemia da Covid-19 diante da possibilidade de colapso do
sistema de saúde, tem afetado a rede de serviços de atenção à tuberculose. Desta
forma evidencia-se a piora dos indicadores e pode gerar graves consequências no
controle da doença. Objetivou-se analisar as características sociodemográficas,
econômicas e clínicas das pessoas com tuberculose, as ações de saúde recebidas e
o desfecho do tratamento em Pelotas/RS. Estudo quantitativo, descritivo e
exploratório, desenvolvido a partir de dados secundários obtidos nos prontuários das
pessoas que encerraram o tratamento para tuberculose no centro de referência
municipal no período de junho de 2020 à março de 2021. Para análise dos dados
procedeu-se a distribuição de frequências relativas e absolutas das variáveis
qualitativas e as medidas de tendência central e variabilidade para as variáveis
quantitativas, em seguida para testar associação entre as características
sociodemográficas, econômicas e clínicas das pessoas com tuberculose e os
desfechos do tratamento farmacológico, aplicou-se o teste Qui-quadrado e exato de
Fisher. Para comparação das médias das variáveis quantitativas referentes às ações
de saúde entre os grupos com desfechos favoráveis e desfavoráveis do tratamento
utilizou-se o teste de Mann Whitney. Foram incluídas 134 pessoas com tuberculose
atendidas pelo serviço de referência, dentre as quais 74,6% obtiveram alta por cura,
foram registrados 19,4% de abandono do tratamento farmacológico e 6% de óbitos,
totalizando a ocorrência de 25,4% de desfechos desfavoráveis do tratamento. Não
foi observada associação entre as características sociodemográficas, econômicas e
clínicas das pessoas com tuberculose e as ações recebidas e o desfecho do
tratamento farmacológico. Quanto às ações recebidas, observou-se associação com
os casos de retratamento da tuberculose, com radiografia de tórax para diagnóstico
positiva, ao uso do esquema especial de tratamento farmacológico e às
comorbidades, incluindo o HIV, a doença mental e o uso de drogas ilícitas
autoreferidas. O estudo identificou alta ocorrência de desfechos desfavoráveis do
tratamento farmacológico da tuberculose e o recebimento de ações de
acompanhamento de forma insatisfatória. Os resultados sinalizam a influência das
características clínicas no recebimento de ações de acompanhamento durante o
tratamento da doença. Medidas de saúde pública que visem à manutenção das
ações de acompanhamento do tratamento podem minimizar os efeitos da pandemia
nos indicadores da tuberculose.