“Forma es conplida de onbre quando ha todos sus mienbros conplidos: & sanos”: por uma história das desabilidades no reinado afonsino (1252- 1284)
Resumo
A presente pesquisa se propõe a compreender as deficiências e as pessoas com deficiências no contexto do governo de Afonso X, o sábio (1252-1284) em Castela e Leão. Embasado principalmente na análise e cotejamento das Cantigas de Santa Maria (CSM) e as Siete Partidas (SP) destacamos algumas ideias e atitudes fundamentais para entender os lugares sociais de inclusão e exclusão, bem como os discursos estigmatizantes que possibilitaram a criação de um novo tipo de marginalizado, o desabilitado. As assimetrias sociais aparecem como uma construção, tanto jurídica quanto discursiva, sobre os espaços cabíveis às PCDs a partir de uma alteridade produzida pelos temporariamente aptos (TABs). A pessoa com desabilidade emerge, portanto, socialmente em razão da valorização desigual de certas habilidades, como a visão, audição, locomoção em detrimento das habilidades possuídas por tais indivíduos. Além disso, esta pesquisa apresenta também um aspecto quantitativo já que organiza em tabelas as ocorrências registradas em ambos os casos, bem como os percentuais abrangidos por cada deficiência em sua ocorrência nas narrativas de milagres marianos. A presente tese propõe analisar cinco grupos minoritários que se tornaram pessoas desabilitadas a plena participação social com base nos discursos sobre sua corporalidade: contreytos ou contrechos; surdos; mudos; cegos e gafos. Além disso, esta pesquisa aborda e entende a deficiência como um conceito fundamental para os processos históricos em clara relação com os mais recentes estudos desenvolvidos no campo dos Disability Studies.