A ideia de empresário de si no serviço público: uma análise na Universidade Federal do Rio Grande
Resumo
Ideais e valores empresariais vêm sendo aplicados de forma cada vez mais intensa
aos diversos âmbitos da vida humana, estabelecendo formas de conduta e tornando
a empresa o modelo de subjetivação (DARDOT e LAVAL, 2016). Esses valores
estabelecem o “empresário de si” (FOUCAULT, 2008), como ideal a ser atingido, e
que sua relação com o serviço público é um campo ainda pouco explorado, o presente
trabalho objetivou analisar a ideia foucaultiana de empresário de si no serviço público,
a partir da percepção de gestores e servidores, lotados em Pró-Reitorias da
Universidade Federal do Rio Grande. Para uma melhor discussão acerca do foco
deste trabalho, foi realizada uma articulação com conceitos de outros autores, como
o “homem empresarial” de Laval e Dardot (2016), a ideia de “governo da alma” de
Rose (1988) e as reflexões acerca da “gestão de si”, de De Gaulejac (2007).
Procedeu-se primeiramente à análise do contexto no qual os servidores se inserem,
entendendo como a burocracia estatal incorpora historicamente um discurso
empresarial, na realidade do serviço público brasileiro; como as políticas de gestão de
pessoas estabelecem o que é esperado desse servidor; e como essas se apresentam
no espaço específico da FURG, incentivando a adoção desse ideal de empresário de
si entre os servidores. Em um segundo momento, a partir dos dados provenientes de
10 entrevistas com gestores e servidores da universidade, observou-se a identificação
dos mesmos com os valores da instituição e o controle cada vez mais difuso em
relação ao seu trabalho, que estimula uma autogestão e uma auto responsabilização
crescente. As percepções dos entrevistados convergem para a existência de um
conflito entre o ideal a ser atingido, que se aproxima da ideia de empresário de si,
através da cobrança pessoal por fazer cada vez mais e ser cada vez melhor; e a busca
por segurança e estabilidade, dentro de um aparato burocrático que limita sua
atuação. Nesse contexto são percebidos sentimentos de culpabilização e frustração,
que podem levar ao adoecimento e a indispensabilidade de se propor reflexões que
possam intervir nesses discursos e compreensões, proporcionando um olhar
diferenciado para as questões de saúde.