Perspectivas de enfermeiras haitianas sobre cuidados em fim de vida aos idosos hospitalizados: análise a partir da teoria da enfermagem transcultural
Abstract
O envelhecimento da população é um problema mundial, que exige atenção dos gestores
dos serviços de saúde, sobretudo em países em desenvolvimento e com poucos recursos,
como o Haiti. Os idosos comumente apresentam doenças crônicas que em algum momento
deixam de responder ao tratamento que pretende modificá-las, culminando no fim de vida.
Nessa fase, a enfermagem se torna essencial e ao prestar cuidados deve considerar os
aspectos culturais que envolvem a história de vida dos idosos, respeitando suas crenças,
valores e desejos, um desafio no contexto da hospitalização. Por isso, esta pesquisa teve
por objetivo compreender as perspectivas de enfermeiras haitianas sobre cuidados em fim
de vida aos idosos hospitalizados a partir da teoria de enfermagem transcultural. Para
respondê-lo, foi realizada uma pesquisa qualitativa sustentada na Teoria de Enfermagem
Transcultural. Entre julho e setembro de 2024, foram realizadas entrevistas
semiestruturadas online ou respondidas via Google Forms com 11 enfermeiras atuantes no
Centro Médico-Social de Ouanaminthe (CMSO), Haiti. Os dados foram gerenciados no
programa Atlas.ti, em sua versão de demonstração e em nuvem, tendo sido submetidos à
análise de conteúdo do tipo temática. Foi solicitada a anuência para realização da pesquisa
ao CMSO, a qual foi concedida. Os resultados foram estruturados em duas categorias: “A
formação das enfermeiras haitianas para o cuidado aos idosos em fim de vida
hospitalizados” e “A interface da cultura nas dimensões do cuidado aos idosos em fim de
vida hospitalizados”. Na primeira categoria é apresentada uma visão dos principais
elementos da formação das enfermeiras haitianas para os cuidados com os idosos em fim
de vida, com enfoque nas áreas da gerontologia e dos cuidados paliativos. Identificou-se
que embora mencionem formação específica, ela demonstra-se centrada em aspectos
físicos e parece carecer de tempo suficiente para impactar diretamente nos cuidados
ofertados, o que foi perceptível ao apontarem as facilidades e dificuldades diante da
hospitalização dos idosos em fim de vida. Na segunda categoria, discorre-se sobre os
principais elementos da interface da cultura nas dimensões do cuidado aos idosos em final
de vida hospitalizados, tendo sido perceptível, por um lado, a tentativa das enfermeiras
incorporarem aspectos da cultura nos cuidados ofertados mesmo em meio à precária
estrutura econômica do serviço e, por outro, as limitações e choques culturais causados pela
diferença entre as visões de mundo das enfermeiras sobre o comportamento dos idosos e
suas preferências em relação aos cuidados genéricos em detrimento dos cuidados dos
profissionais de saúde. Conclui-se que há necessidade de investimento político, econômico
e estrutural em direção à constituição de uma cultura paliativista no serviço, além de
formação das enfermeiras para o cuidado ampliado e culturalmente congruente, algo
fundamental, considerando as especificidades dos idosos haitianos e seus modos de vida.