Linguagem cartográfica e imaginários espaciais: uma análise dos testes de ancestralidade genética
Resumo
O crescimento exponencial dos testes de ancestralidade genética vem trazendo novas formas de interpretação das identidades espaciais. Diante deste cenário, surgem questionamentos quanto ao que o usuário deste produto busca, quais práticas estão sendo reiteradas a partir do uso dos testes e os discursos que são utilizados para validação de seus resultados. O enfoque deste trabalho é entender os usos da linguagem cartográfica na produção e validação de imaginários sobre uma alegada ancestralidade genética, assim, analisando as linguagens utilizadas pelas empresas que vendem os testes, observando o uso e interpretação desses resultados pelos usuários e mapeando a produção de imaginários sobre si. O trabalho é desenvolvido a partir de duas etapas: na primeira, realizou-se uma análise das páginas das três empresas que comercializam o produto no Brasil, identificando linguagens e discursos vigentes; na segunda, foram realizadas duas rodadas de entrevistas narrativas com usuários de testes de ancestralidade de quatro diferentes municípios do Rio Grande do Sul com o apoio de um mapa mental. Os resultados apontam para (1) o uso de uma linguagem científica que associa os mapas a discursos de verdade, como a genética, a estatística e a historiografia; (2) a produção de subjetividades que reiteram ou confrontam as histórias familiares, mobilizando os usuários a novos lugares na percepção territorial; (3) a sugestão de imaginários geopolíticos fixos e estáveis, reforçando relações geopolíticas, raciais e estereotipadas com os territórios. Conclui-se que o teste de ancestralidade genética é um instrumento que atua de forma articulada a outros discursos na promoção de um imaginário geográfico problemático consolidado por linguagens cartográficas estáticas e pouco críticas.