“A Mary Kay é pra todo mundo, mas nem todo mundo é pra Mary Kay”: as consultoras e as subjetividades reconfiguradas pela lógica do pós-celetismo
Resumen
Esta tese pretende compreender as experiências e trajetórias de consultoras e diretoras vinculadas à Mary Kay, empresa de venda direta de cosméticos, a partir da lógica pós-celetista. Visando identificar se ocorrem processos de reconfigurações
das subjetividades das trabalhadoras em favor do imaginário do empreendedorismo, bem como a justificação da independência e autonomia no processo de vinculação entre as trabalhadoras e a referida empresa, foram realizadas 13 (treze) entrevistas
a partir da metodologia de História Oral. Se a ordem pós-celetista se apresenta como alternativa ao emprego socialmente protegido, especialmente a partir da nova razão de ordem econômica dimensionada pelo neoliberalismo, as experiências das
consultoras e diretoras Mary Kay entrevistadas arrazoam a complexidade das relações laborais que escapam às tradicionais vinculações de emprego e apresentam novos contornos às formas de compreensão sobre o trabalho. Engajamento, meritocracia, autonomia e liberdade são princípios e valores comungados pela Mary Kay que, além de caracterizarem o pós-celetismo, se destacam por serem constantemente associados à ideia da feminilidade e a um pretendido mundo cor de rosa Mary Kay. Parte das narrativas apresentadas reproduzem justamente a articulação entre a representação do pós-celetismo e a
noção de que a Mary Kay se apresenta como uma alternativa que não apenas transforma vidas sob a perspectiva economicista, mas pela própria assimilação de valores relacionados ao empreendedorismo, costumeiramente representado pela ideia de liberdade e autonomia.