Impactos do uso de equipamentos de proteção pessoal sobre parâmetros fisiológicos e motores de policiais rodoviários federais
Resumo
A natureza do trabalho policial caracteriza-se por apresentar atividades críticas
exaustivas, bem como situações ocupacionais que exigem elevada aptidão física,
como correr, saltar, puxar, empurrar e carregar. Os equipamentos de proteção pessoal
(EPP) são dispositivos obrigatórios para o desempenho da profissão tática policial, os
quais, devido a sobrecarga física, podem gerar modificações nas demandas
fisiológicas e no desempenho. Assim, o objetivo principal deste estudo foi analisar e
comparar as diferenças nas respostas fisiológicas, perceptual e de desempenho, no
exercício progressivo máximo em esteira e em tarefas motoras (Parte I) e operacionais
(Parte II), entre o uso (CEPP) ou não (SEPP) dos EPP utilizados por policiais
rodoviários federais (PRF). O estudo se caracteriza como experimental, de medidas
repetidas. Na Parte I, em dias separados, 19 PRF, do sexo masculino, de Pelotas-RS,
realizaram bateria de testes motores SEPP e CEPP (8,3 kg) em uma ordem cruzada
randomizada. A aptidão motora foi medida a partir de testes de potência aeróbia e
anaeróbia, resistência, potência e força muscular, e agilidade. Foram realizadas
análises fisiológicas (frequência cardíaca máxima – FCmax e sua variabilidade – VFC,
razão de troca respiratória – RTR, consumo máximo de oxigênio – 𝑉 ̇ o2max, pulso de
O2, concentração de lactato sanguíneo – [Lac]) e perceptual (percepção subjetiva de
esforço – PSE) no teste progressivo máximo – TPM. Análises revelaram redução da
FCmax, no limiar ventilatório (1,4%) e no exercício máximo (1,5%), bem como do 𝑉 ̇o2max,
normalizado para a massa total transportada (7,4%), na condição CEPP. Além disso,
o desempenho físico foi reduzido na condição CEPP pelo (a): redução no tempo do
TPM até o limiar ventilatório (24,5%) e na tolerância ao exercício máximo (21%);
redução do tempo em isometria de tronco (28,9%) e isometria na barra fixa (14,8%);
redução nas alturas dos saltos verticais (11,6% e 10,5%) e distância do salto horizontal
(7,3%) e aumento no tempo do teste de agilidade (2,6%). Na Parte II, em duas sessões
separadas, SEPP (5,2 kg) e CEPP (12 kg), em ordem aleatória contrabalanceada, 13
PRF homens completaram um teste de capacidade física ocupacional (TCFO)
composto por sete tarefas ocupacionais policiais. Foram mensuradas respostas
metabólicas (FCmax, VFC, [Lac]), de percepção (PSE) e de desempenho (tempo total
e de cada tarefa). Quando equipados, os PRF apresentaram diminuição no
desempenho, com aumento médio do tempo de conclusão do TCFO (6,4%)
comparado à sessão SEPP (125,9 ± 13,8 vs. 118,3 ± 11 s; p<0,01). A [Lac] após o
TCFO foi maior na condição SEPP em comparação a CEPP (respectivamente, 11,7 ±
2,7 vs. 9,6 ± 1,5 mmol/L; p<0,05). Portanto, os EPP utilizados pelos PRF reduzem o
desempenho físico de policiais em testes cardiorrespiratórios, de força, potência,
agilidade e em um circuito ocupacional específico. Baseados nos resultados
encontrados, as instituições policiais devem considerar os efeitos dos EPP sobre as
capacidades físicas e operacionais de seus agentes em suas avaliações físicas, a fim
de equilibrar a proteção com o desempenho do serviço prestado à sociedade.