A experiência de ouvir vozes: características, sentidos e estratégias
Fecha
2018-10-08Autor
Couto, Maria Laura de Oliveira
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Com o surgimento do Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes, ouvir vozes que os outros não o fazem, passa a ser considerado uma experiência humana que, por si só, não pode ser considerada sintoma de transtornos mentais. Essa nova perspectiva acerca do que o modelo biomédico denomina “alucinação auditiva” vem sendo amplamente difundido pelo mundo e, recentemente, no Brasil. O presente estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter descritivo, fez parte da etapa qualitativa do projeto intitulado “Ouvidores de vozes – novas abordagens em saúde mental”, e teve como objetivo compreender a experiência de ouvir vozes a partir das características, dos sentidos, e das estratégias utilizadas pelos ouvidores. O local de estudo foi um CAPS tipo II da cidade de Pelotas/RS. Os participantes do estudo foram 16 ouvidores de vozes com diagnóstico de transtornos mentais e comportamentais, que frequentavam o CAPS II e participavam do grupo de ouvidores de vozes que acontecia no serviço. A coleta de dados foi realizada no mês de abril de 2018 e se deu por meio de entrevistas semi-estruturadas. Os dados das entrevistas foram organizados e discutidos em 3 categorias: características das vozes; sentido das vozes; e estratégias para lidar com as vozes. Evidenciou-se que as características das vozes relatadas pelos entrevistados foram, majoritariamente, negativas, e que são preditores muito importantes das reações emocionais dos ouvidores frente à experiência. Quanto aos sentidos, estes parecem ser construídos mediante a influência dos diversos discursos aos quais cada um é exposto no seu meio histórico e social ao longo da vida, visto que eles se manifestam claramente no conteúdo das vozes que os entrevistados relataram escutar. As características das vozes e os sentidos atribuídos às mesmas pelo ouvidor, mostraram ter muita influência na relação que ele irá estabelecer com as suas vozes. Essa relação irá determinar o tipo de estratégia que o ouvidor irá utilizar para conviver com a experiência, as quais podem ser mais ou menos adaptativas. A configuração que a experiência de ouvir vozes tem para cada indivíduo possibilita diferentes modos de vida e de relação com as vozes.