Interseccionalidade de fatores sociodemográficos na ocorrência de fragilidade em uma cidade do sul do brasil, 2021
Abstract
A fragilidade tem causa multifatorial, sendo plausível que sofra influência das
iniquidades sociais. A partir disso é importante compreender como as condições
sociodemográficas atuam no processo saúde-doença. Essa abordagem é viável
através da interseccionalidade, e dessa forma estabelecer políticas equitativas de
acordo com as iniquidades sociais. A análise interseccional preencheria lacunas
ainda presentes na literatura, especialmente sobre os fatores não biológicos
envolvidos no desenvolvimento dos desfechos de saúde investigados. Logo, o
objetivo desta tese foi analisar a ocorrência de fragilidade de acordo com a
interseccionalidade de variáveis sociodemográficas entre pessoas em
envelhecimento de uma cidade do sul do Brasil. Trata-se de estudo transversal de
base populacional. Para o presente trabalho, foram incluídas pessoas com idade
igual ou superior a 50 anos, residentes em localidades vinculadas a unidades
básicas de saúde. A variável dependente foi fragilidade avaliada a partir de um
instrumento de autorrelato composto por cinco componentes: perda de peso
não-intencional, diminuição da força e da velocidade da marcha, baixa atividade
física e fadiga. A principal variável independente foi a interseccionalidade de fatores
sociodemográficos. Foi realizado uma análise interseccional através de modelos de
regressão de Poisson utilizando os desfechos dicotômicos. A prevalência de
fragilidade foi de 33,6% (IC95%: 31,0– 36,4) e a pré-fragilidade foi de 26,1% (IC95%:
23,7–28,7). Independente da característica sociodemográfica e da categoria dela, a
maioria da população (>50%) apresentou algum componente de fragilidade
(pré-fragilidade e fragilidade). Observou-se uma relação dose-resposta entre
interseccionalidade e fragilidade. Mulheres, pretas/pardas, baixa escolaridade e
menor classe econômica, tiveram 2,34 vezes (IC95%: 1,50-3,76) mais fragilidade do
que homens, brancos, alta escolaridade e maior classe econômica. Quanto maior a
iniquidade, maior a prevalência de piora na autopercepção de fragilidade. A análise
ajustada por idade evidenciou-se o mesmo padrão de aumento da piora na
autopercepção de fragilidade conforme o aumento da iniquidade. Mulheres,
pretas/pardas, baixa escolaridade e menor classe econômica, tiveram 1,75 vezes
(IC95%: 1,50-3,76) mais percepção de piora do que homens, brancos, alta
escolaridade e maior classe econômica. A determinação social da fragilidade
envolve a intersecção de variáveis sociodemográficas. Os resultados apresentados
pelo estudo contribuem para o conhecimento de como a pandemia pode ter afetado
a saúde das pessoas sob análise da interseccionalidade de fatores
sociodemográficos na autopercepção de saúde.