A síncope na redução variável de proparoxítonas e paroxítonas terminadas em ditongo crescente no português de falantes analfabetos e de baixa escolarização da região de Mostardas/RS e Tavares/RS

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Data
2018-12-20Autor
Souza, Miriam Beatriz Pedone de
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Este estudo buscou descrever, analisar e formalizar o tratamento dado por falantes do Português do Brasil a palavras com acento marcado, expresso em dois casos: em proparoxítonas (ex.: médico) e em paroxítonas terminadas em ditongo crescente (ex.: pátio). Seguindo uma abordagem de natureza sociolinguística, o foco da pesquisa fixou-se no emprego variável do acento considerado marcado na língua, em falantes analfabetos e de baixa escolarização da região de Mostardas/RS e Tavares/RS. Os dados foram analisados à luz da Fonologia Métrica (HALLE & VERGNAUD, 1987; BISOL, 1992) e da
Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972,1994). O corpus do estudo, constituído por dados linguísticos de 12 Informantes – 6 analfabetos e 6 com baixa escolaridade –, foi obtido em entrevistas sociolinguísticas individualmente realizadas com cada informante, contando com a aplicação de instrumento específico relativo ao objeto de análise: as palavras proparoxítonas continham, nas duas últimas sílabas, as vogais i_o e i_a, separadas pelas consoantes /t/, /d/, /k/, /g/, como crédito, ácido, dívida, crítico, África, código; as palavras paroxítonas eram terminadas pelas sequências io, ia, precedidas pelas consoantes /p/, /b/, /t/, /d/, /k/ como olímpio, cópia, lábio, tíbia, pátio, hóstia, médio, colóquio, relíquia. Esses contextos foram eleitos na busca de homogeneização do ambiente fonético-fonológico, bem como de palavras existentes na língua. Os dados foram transcritos, fichados e submetidos ao programa computacional SPSS, com o controle de variáveis linguísticas e extralinguísticas. Os resultados estatísticos indicaram diferenças significativas entre os dois grupos em comparação: Informantes Analfabetos e Informantes de Escolaridade Baixa, sendo que apenas os Informantes Analfabetos aplicaram processos na produção das palavras portadoras de acento marcado. Dentre os processos de que as palavras com acento marcado foram alvo, dois foram apontados como significativos pela análise estatística: (a) o processo de elisão da última sílaba da palavra, nas proparoxítonas (crédito crédi), (b) o processo de elisão da segunda vogal do ditongo, nas paroxítonas terminadas em ditongo crescente (pátio páti), mostrando-se este ser característico da região investigada. Os dados revelaram que a síncope se fez presente como processo que tende a desfazer o acento marcado, manifestado em palavras proparoxítonas e em palavras paroxítonas terminadas em ditongo crescente. Os processos aplicados pelos Informantes Analfabetos da pesquisa foram formalizados sob os pressupostos da Teoria Métrica, seguindo-se a proposta de Bisol (1992) para a atribuição do acento primário aos nomes do Português. A formalização permitiu que se explicitasse e se representasse a preservação da sílaba originalmente portadora do acento primário da palavra e que também se evidenciasse que os segmentos e/ou as sílabas alvo dos processos ocupavam posição não proeminente: ou a borda fraca do pé do acento primário da palavra ou a sílaba
considerada extramétrica da palavra em sua representação subjacente. Pela formalização, foi
possível concluir-se que as palavras proparoxítonas e as paroxítonas terminadas em ditongo crescente foram alvo, para esses falantes, de um único processo de síncope: a síncope de sílaba
subjacentemente extramétrica. Esse resultado dá suporte ao entendimento de que as palavras paroxítonas terminadas em ditongo crescente são proparoxítonas na representação subjacente.
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