A constituição objetiva do sujeito moderno no diagnóstico de Michel Foucault: uma digressão entre poder e saber no discurso da arque-genealogia.
Resumen
O presente trabalho visa traçar o diagnóstico de Foucault sobre a constituição
objetiva do sujeito moderno, em seu entender erigido como efeito da mútua implicação
entre o poder disciplinar e os saberes antropológicos que emergem em paralelo ao
discurso iluminista. A questão oferece uma visão alternativa à elucubração da verdade
como tema candente, à medida que embota o estatuto do sujeito doador de sentido,
núcleo central do conhecimento validado desde fins do século XVIII. Com Foucault a
própria noção de verdade é substituída pela composição de discursos contingentes
situados na trama histórica, que projetam o verdadeiro e o falso no terreno do
conhecimento. Esta disposição é coerente a uma historiografia alheia ao modelo
antropológico que pretende colocar em marcha com sua arqueologia e genealogia. No
conjunto de seus escritos, a relação que estabelece entre poder e saber com a formação
do sujeito se dá tanto como objetivação, quanto sob a forma da subjetivação, uma
versando sobre a construção desde um ponto exterior e a outra através de uma
elaboração como prática de si. Esta pesquisa se reserva a uma digressão imanente aos
conteúdos de formação que incidem exteriormente sobre o homem para constituí-lo na
modernidade como sujeito, cuja forma é a do indivíduo dócil, útil e produtivo. Este
caminho lhe confere o significado do sujeito como sujeitado, um autômato contraposto
ao sujeito transcendental creditado à filosofia de Kant. Para a consecução deste trabalho
é discutida a reposição de um tribunal da verdade que demonstra os limites traçados por
Foucault aos temas antropológicos, o que imputa a consciência produtora de outrora à
condição de produto. Faz-se igualmente o percurso de Foucault enquanto arqueólogo
dos saberes que constituíram simultaneamente o homem como seu objeto e sujeito, e do
genealogista que investiga a mecânica do poder em sua licenciosa relação com o
conhecimento, para definir as condições objetivas que fabricaram o sujeito na leitura
que o francês faz da modernidade. O resultado decorre da leitura da obra de Foucault,
sobretudo de seus escritos entre 1961 e 1976, e dos comentadores, em especial Gilles
Deleuze, Paul Veyne, Hubert Dreyfus, Paul Rabinow, Roberto Machado, César
Candiotto e Jürgen Habermas.
Colecciones
El ítem tiene asociados los siguientes ficheros de licencia: