As transformações do estatuto da Ciência: o caso da construção da Ciência psicológica no âmbito do sistema prisional.
Resumen
Esta dissertação parte dos estudos sociais da ciência e da arqueogenealogia foucaultiana para traçar as implicações concretas das transformações da concepção de ciência sobre as práticas psicológicas orientadas para o sistema prisional, ressaltando as maneiras pelas quais seu discurso científico tem lidado com o desafio de produzir um conhecimento ora legitimador das práticas punitivas, ora resistente à lógica punitiva. Trata-se, mais especificamente, de investigar como determinadas formas de saber, de poder e de subjetividade emergem e são articuladas em face da modificação epistemológica de determinadas realidades sociotécnicas, como o caso da Psicologia, e as redes que a acompanham, lhe dão sustentação e compõem seus efeitos no sistema prisional. Pontuando a formação de uma ciência brasileira sempre atrelada à busca por soluções para os problemas eleitos como “urgentes”, o presente estudo interessa-se pelos cruzamentos entre as disciplinas científicas – especificamente a Psicologia – e a lógica punitiva que sustenta as formas pelas quais os conflitos sociais são pretensamente resolvidos no país. Adentra-se, ainda, nas propostas contemporâneas formuladas na tentativa de desvencilhar as práticas psicológicas de uma tradição epistemológica baseada no positivismo, no evolucionismo e na etiologia. Discute-se o quanto essas novas propostas da ciência psicológica configuram-se em modos de gestão de condutas baseadas em uma matriz liberal. Com o intuito de conhecer os efeitos das transformações da concepção de ciência no caso da Psicologia aplicada ao sistema prisional, optou-se pela análise do discurso de artigos científicos que desenvolvem técnicas psicológicas voltadas para as prisões, bem como do discurso do Conselho Federal de Psicologia, consubstanciado em diversos documentos produzidos sobre o tema nos últimos anos. Mapeou-se, dessa forma, como os argumentos de uma nova orientação epistemológica da Psicologia são mobilizados para criação de novas práticas, evidenciando-se as grandes dificuldades em articular uma proposta de resistência em um espaço institucional extremamente normatizado e normalizador, como o sistema prisional.
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