A identidade representada, da espiritualidade à materialidade (Pelotas-RS): a arte umbandista de Judith Bacci.
Resumo
Esta pesquisa versa sobre as esculturas vinculadas à umbanda realizadas por Judith Bacci (1918-1991), artista negra pelotense, que iniciou suas atividades artísticas na antiga Escola de Belas Artes, em Pelotas-RS, atual Centro de Artes. A história da artista evidencia fatores que a levaram às produções estudadas neste trabalho, dentre elas estão esculturas de Orixás, pretas-velhas, baianas, máscaras egípcias e chinesas. Utilizando-se da cultura material na construção da história local, da memória social e do patrimônio cultural, busca-se entender aspectos da identidade umbandista na cidade a partir da análise das obras produzidas entre 1960 a 1985 pela escultora. Na análise da significação das peças optou-se por aplicar a metodologia sobre iconografia e iconologia proposta por Erwin Panofsky (1991). A partir dessa leitura das imagens, refletir-se-á sobre a hierarquização de bens patrimoniais, o branqueamento de figuras africanas, os conflitos memoriais, o sincretismo e o hibridismo cultural. Tópicos relevantes, pois observa-se que os objetos que servem como exemplares de patrimônio não são escolhidos de forma neutra, já que os critérios de seleção e descarte buscam a manutenção de poder, destacando uma cultura em detrimento de outra. Dessa forma, a cultura material deve ser analisada com olhar crítico para que não valorize apenas modelos da cultura dominante. Para a concretização deste trabalho, além do uso de entrevistas realizadas com a comunidade que possuía relação com a artista, foram consultados jornais da época e utilizados instrumentais teóricos disponíveis. Visto que as esculturas estudadas são de efetivo uso na cidade, sobretudo em cerimônias religiosas, torna-se importante esta pesquisa, pois as obras apresentam uma força simbólica que alcança uma coletividade e contribuem para a consolidação identitária. Assim, pretende-se esclarecer questões da identidade umbandista possibilitando uma melhor compreensão da religião genuinamente brasileira, mas que, por vezes, é marginalizada neste país dito multicultural.
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