Na “rooteza”: memória e identidade de uma prática roqueira underground no extremo Sul do Brasil nos anos 1990.
Resumo
Memória e identidade são dois termos inseparáveis. Sem o primeiro não haveria o
segundo. Em termos gerais, pode-se dizer que a memória abarca muitos tipos de
processos sociais conformados e articulados por uma variedade de grupos sociais.
Na busca por constituirem uma representação presente de si mesmos (um processo
identitário), estes grupos articulam muitos tipos de relacionamentos com e
representações de seus próprios passados e tradições. Estes processos são
geralmente organizados em torno de patrimônios, discursos, crenças, ideologias e
valores, relacionados ou não à arquitetura, objetos, lugares, rituais, cerimônias
comemorativas, etc. Por outro lado, nosso estudo esteve baseado em outro tipo de
articulação da memória e identidade: através da oralidade e entrevistas individuais
(memórias sócio-musicais individuais) buscamos compreender como um grupo de
sujeitos articularia uma memória e identidade relacionada ao que chamamos cena
rock underground pelotense dos anos 1990 – uma cena coletivamente articulada por
si mesmos no passado. Mas enfrentamos um problema que compunha nosso campo
empírico: no hoje, este grupo não é mais o mesmo. Pode-se dizer que o grupo
sócio-musical passado se fragmentou ao longo do tempo, no movimento do ontem
ao hoje. Em outras palavras: não tivemos um grupo-coletivo social no presente que
corresponderia ao grupo-coletivo do passado. Como conseqüência, enfrentamos
outro problema: na medida em que não articulam uma continuidade desta cena
através de cerimônias comemorativas (no presente) relacionadas a este meio
passado, estaríamos frente à articulação de uma memória e identidade que
corresponderia a uma memória coletiva? Como forma de superar tal perspectiva – a
tradição instituída por Maurice Halbwachs -, abordamos um tipo de memória e
identidade sócio-musical que teve como eixo de (re)construção recordações
relacionadas às práticas sócio-musicais dos(as) entrevistados(as). Considerando a
música como eixo potencial de (re)construção e significação de experiências
musicais passadas, as histórias de vida tiveram como foco as experiências rock e
underground dos sujeitos. Ao longo das análises das narrativas individuais
percebemos a emergência de categorias ético-êmicas que foram sendo
conformadas através de padrões temáticos relativamente compartilhados entre
os(as) entrevistados(as) nas (re)construções de suas experiências. Além disso, e
também de maneira relativamente compartilhada, tais experiências foram, em muitos
momentos, dialogadas com experiências similares no presente. Neste sentido,
articularam comparações entre práticas sócio-musicais do ontem-hoje que, ao final,
delinearam representações de suas identidades sócio-musicais em termos
geracionais. Baseados na descrição densa (GEERTZ, 2008), estudamos um
processo de memória e identidade relacionado a um tipo de passado sócio-musical
(rock e underground) articulado e conformado através do que compreendemos como
alteridade temporal.
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