Chefia, parentesco e alteridade: Um estudo etnológico do sistema dualista e do poder político Kanhgág.
Resumen
Esta Tese de Doutorado tem como objetivo analisar a lógica do poder político
Kanhgág – uma Sociedade Jê Meridional. Para isso, foi realizada uma pesquisa
etnográfica na ẽmã mág (aldeia grande) Nonohay e em duas ẽmã sĩ (aldeias
pequenas), Por Fi Ga e Fosá. A escolha da ẽmã mág Nonohay se realizou por esta
possuir um pã’i mág (chefe político) com 32 anos no cargo, ter um histórico de luta
pela terra, ser uma das maiores terras indígenas Kanhgág no Rio Grande do Sul e
por ser palco de conflitos políticos Kanhgág, que envolvem expulsões e
transferências de oponentes por parte do pã’i mág, além do plantio de lavouras de
soja na terra indígena. As ẽmã sĩ são formadas por grupos domésticos expulsos da
ẽmã mág Nonohay, que buscam acionar signos diacríticos em relação ao pã’i mág
dessa ẽmã mág. Desse modo, este trabalho analisou as categorias Kanhgág que
orientam a política e a distribuição de recursos econômicos e constatou que os
conceitos se originam a partir do sistema dualista kanhgág marcado pela relação de
metades e seções – respectivamente, Kamé, Kanhru, Wonhetky e Votor – que se
desdobram, por exemplo, nos quatro termos que denominam as espacialidades – Ĩn
(Casa), ẽmã mág (aldeia grande), vãre (acampamento) e ẽmã sĩ (aldeia pequena) –,
as classificações sociais – Kanhgág pé (Índio puro), Misturado, Fóg sĩ (pequeno
branco) e Fóg (branco) – e as chefias políticas – pã’i (chefe de grupo doméstico),
pã’i mág (chefe político maior), cabeça e pã’i sĩ (chefe político menor). O conjunto
dessas séries dualistas é o motor das alianças e das rupturas políticas, que por sua
vez movimentam a lógica do poder e do prestígio político Kanhgág. Com isso,
elencou-se em um primeiro momento o modelo político presente na ẽmã mág
Nonohay para estabelecer um comparativo com a realidade observada nas ẽmã sĩ
Por Fi Ga e Fosá. Na ẽmã mág Nonohay foi delineado o contexto de seu
surgimento, a trajetória dos pã’i mág, a centralidade e a longevidade do atual pã’i
mág Pénry. Também foram analisados os ciclos econômicos – do tempo do “matão”;
das práticas das agências indigenistas; e das relações com o agronegócio – o
sistema de trocas e a rede de solidariedade e reciprocidade pautada na hierarquia
dos pã’i na Ĩn. Em relação as ẽmã sĩ Por Fi Ga e Fosá analisou-se a lógica de
funcionamento político, a distribuição das benesses do poder e o processo
sucessório dos pã’i mág, com o intuito de identificar suas semelhanças e diferenças,
assim como verificar as aproximações e os afastamentos da prática política da ẽmã
mág Nonohay. Acompanhando a permanência e o declínio dos pã’i mág e a
distribuição de bens econômicos nos diferentes cenários etnográficos se conclui que
a formação de grupos e a constante oposição é um princípio fundado na lógica
dualista Jê que organiza a coesão e a dispersão Kanhgág. No mesmo sentido, o pã’i
mág se mantém no cargo a partir da aliança com os demais pã’i, fundado no
prestígio de sua Ĩn e na força de seus kanhkó, que o protegem dos oponentes.
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