Sobre a dimensão estética do conceito de leitura literária: perspectivas de uma Dialética Negativa.
Resumo
Diferentes pesquisas têm constatado o insucesso do ensino de literatura bem como
as muitas funções que o texto literário tem carregado consigo para legitimar seu
espaço na instituição escolar e nos processos seletivos. A presente tese consiste em
uma pesquisa teórico-bibliográfica e parte da constatação de uma precária formação
do leitor diagnosticada por estudos da área. Além dessas constatações, alguns
aspectos abordados pela pesquisa Retratos de Leitura no Brasil e pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais foram considerados, cotejados a pesquisas no campo do
ensino de literatura, buscando os impasses vivenciados por aqueles que ministram
essa disciplina. A partir de um deslocamento conceitual, considera-se que o leitor
pseudoformado é aquele que convive em um mundo utilitário, em que as finalidades
das leituras possuem a tendência da curta duração e convergem a transformarem-se
em medidas para outros fins que não a humanização das pessoas nem a formação
de um sujeito histórico-político. Esse conceito, dialogando com o conceito de
semiformação, demonstra a carência de uma experiência que não tenha princípio
em nenhuma atitude moral, nenhuma finalidade, nem em algum conceito, nem na
busca por um espírito elevado. O seu único fim precisaria ser ela própria, como
prática inintencional, negando autoridades, postulados e valorações que limitam o
seu possível. As categorias aqui apresentadas são oriundas dos entraves na
formação de leitores e começam a ser discutidas a partir das cartas trocadas entre
Theodor Adorno e Walter Benjamin. As concepções de dialética negativa, imagem
dialética e pensamento constelatório, que possuem como fundamentação a
produção subjetiva de semelhanças enquanto princípios de envolvimento entre
conceito e objeto, são aquelas principalmente abordadas para que se reconheça a
necessidade de uma leitura literária que prime pela mimese-aconceitual e pela
prática inintencional, uma vez que se objetiva a formação cultural. Entretanto, é
importante que a leitura literária se constitua como parte integrante da faculdade de
realizar experiências sensíveis, de envolver-se com o não-nominado, com o nãocoisal
e com o não-conceitual, de ir ao extremo do seu possível na construção de
novos sentidos, além do potencial dado como conhecido, e andar de mãos dadas
com a sua própria indefinição. Ela traz à tona, para quem a realiza, um momento de
experiência subordinado às mais diversas e inconstantes verdades do leitor que, a
priori, não podem ser substituídas por nenhuma redução.
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