Avaliação quantitativa e qualitativa das alterações salivares na síndrome de ardência bucal (condição sistêmica) e no carcinoma espinocelular oral (progressão e resposta às terapias)

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Data
2020-04-30Autor
Aitken-Saavedra, Juan Pablo
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Introdução: A saliva como meio de diagnóstico de doenças bucais e sistêmicas tem sido objeto de estudo com o intuito de acrescentar sua utilização como exame complementar, considerando as vantagens do seu uso. O carcinoma espinocelular (CEC) é a neoplasia maligna mais comum da cavidade oral e apresenta um comportamento agressivo e invasivo. A detecção precoce de lesões orais potencialmente malignas (LOPM) é essencial para evitar a progressão para o CEC e a detecção de mudanças na composição electrolítica salivar poderia ser de utilidade neste sentido. Além disso, um recente sequenciamento massivo mostrou que dos genes mutados mais associados com o desenvolvimento de CEC, o FAT1 é o único que codifica uma proteína secretória, potencialmente detectável na saliva e utilizável como biomarcador. A síndrome de ardência bucal (SAB) é uma condição crônica caracterizada por uma sensação de queimação na boca sem achados clínicos ou
laboratoriais que justifiquem esse sintoma e pode afetar dramaticamente a qualidade de vida dos afetados. Alterações salivares poderiam determinar a sua etiologia ou refletir o status sistêmico na síndrome. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar o potencial uso do FAT1 tecidual e salivar e o perfil bioquímico salivar na progressão de LOPM para o CEC e sua resposta às terapias e traçar o perfil salivar de mulheres com SAB.
Métodos: Este estudo foi dividido em 4 partes 1). Saliva não estimulada (uSRF) foi coletada de 54 pacientes, 18 com CEC (avaliados também 6 meses após terapia), 18 com LOPM e 18 sem lesões bucais. Mediante um espectrômetro de emissão óptica foram determinadas concentrações de 8 eletrólitos. Estes resultados foram complementados com uma revisão sistemática da literatura. 2). A partir desta mesma amostra de pacientes, foram determinados os níveis salivares de FAT1 nativo com a técnica ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) que se associaram com os níveis teciduais de FAT1 aberrante (das suas respectivas biópsias), submetidos à técnica imunoistoquímica e avaliados por análise semi-quantitativa e determinação computadorizada. Complementando esta análise, níveis teciduais de FAT1 também foram determinados pela técnica imunoistoquímica em um estudo retrospectivo de 72 biopsias (de tecido sadio, displasias de alto e baixo risco e CEC). 3). Foi realizada
uma revisão sistemática avaliando e comparando caraterísticas salivares de pacientes com e sem SAB. 4). Foram recrutadas 40 mulheres com SAB e 40 controles.
Determinaram-se uSRF, pH, níveis de cortisol, viscosidade e perfil de impacto da SAB na saúde bucal (OHIP-14). Testes de Kruskal-Wallis e Mann-Whitney foram utilizados para as comparações e o teste de Spearman para as associações entre as variáveis. P <0,05 foi considerado estatisticamente significante.
Resultados: 1) Pacientes com LOPM apresentaram níveis mais altos de Magnésio (Mg) salivar. Informações adicionais sobre o papel dos eletrólitos na progressão do câncer e o seu potencial uso como biomarcadores nesta doença. 2) A análise semiquantitativa da expressão imunoistoquímica de FAT1 indicou que 2 amostras (11%) no grupo controle e 10 amostras (50%) no grupo CEC, tiveram pontuação 4 na avaliação semiquantitativa (coloração > 50). Resultados semelhantes foram descritos
pela determinação computadorizada de FAT1 (os resultados das duas técnicas demonstraram associação forte e positiva). Saliva de pacientes controles apresentaram maiores níveis de FAT1 em comparação com pacientes com LOPM e com CEC antes e após terapia (0,168, 0,162 0,154 e 0,153 nm / mL respectivamente e p <0,05). Foi observada uma correlação negativa e fraca entre os níveis salivares e teciduais de FAT1. 3) A Análise salivar qualitativa, segundo a revisão sistemática realizada, aponta que a SAB poderia estar determinada ou refletir a ação de fatores neuropáticos (também sugeridos por alguns eletrólitos salivares), fatores inflamatórios, emocionais, imunológicos e hormonais. 4) Mulheres com SAB apresentaram em relação ao grupo controle e com diferencias estatisticamente significantes, menor viscosidade (31.1 e 45.01 mPas) menor uSFR (0.35 e 0.61 mL /
min) e maiores níveis de cortisol salivar (0.36 e 0.15 μg / dL), os que foram associados positivamente com maiores scores de OHIP-14.
Conclusão: 1). Maiores níveis de Mg salivar estão assiciados às alterações displásicas vistas nas LOPMs. 2) O uso de FAT1 nativo como marcador salivar da progressão ou da resposta à terapia no CEC não é recomendado, de acordo com a metodologia utilizada no presente estudo. A imunomarcação citoplasmática de FAT1, amplamente mais frequente em CEC sugerem seu fenótipo aberrante e poderia estar associado com caraterísticas neoplásicas como agressividade. 3) A análise salivar qualitativa aponta para uma origem multifatorial na SAB. 4) Alterações salivares presentes em mulheres com SAB como menor uSRF e menor viscosidade poderiam estar associadas com a patogênese da síndrome ou ser reflexo do status sistêmico das afetadas. Maiores níveis de cortisol salivar refletem a pior qualidade de vida que mulheres com SAB relatam ter.
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