"Eu tô no camelô": a construção de identidades profissionais no Pop Center em Pelotas (RS).
Abstract
Esta dissertação visa analisar os processos de socialização, as trajetórias laborais e a
construção das identidades ―socioprofissionais‖, dos vendedores e vendedoras do Pop
Center no município de Pelotas, Rio Grande do Sul. O Pop Center foi o primeiro
shopping popular construído em Pelotas na primeira metade da década de 2010, para
legitimar o ofício dos trabalhadores que comercializavam nas ruas do entorno do antigo
centro histórico. Atualmente é composto por um total de 546 lojas, distribuídas entre
comerciantes e praça de alimentação, e é conhecido principalmente pela venda de
mercadorias diversas, de roupas a produtos eletrônicos. Este estudo se iniciou
originalmente em Goiânia-GO entre 2012 e 2015, com o objetivo de pesquisar o ofício
dos vendedores de eletrônicos que comercializavam suas mercadorias nos
camelódromos do bairro de Campinas. A partir daí observou-se a necessidade de
investigar esses sujeitos sociais em um novo contexto econômico, social, e local, em
Pelotas. Isso porque esses trabalhadores têm passado por abruptas transformações nas
suas atividades e enfrentado crises desde 2015. Presume-se que esses sujeitos sociais
seguem trajetórias recorrentes neste ofício, alguns foram socializados neste ambiente e,
por isso, cabe estudar como é a construção de suas identidades socioprofissionais.
Dessa forma, o principal objetivo da pesquisa consiste em compreender como os
vendedores e vendedoras exercem seus ofícios, e de que forma o labor influencia na
construção de suas identidades socioprofissionais. Para realizar esta pesquisa, parti de
uma revisão bibliográfica sobre a constituição do mercado de trabalho no Brasil e a
informalidade, priorizando a teoria sociológica francesa de Claude Dubar. Em diálogo
com a teoria deste último, este estudo se valeu principalmente da teoria construtivista de
Berger e Luckmann, e dos conceitos de identidade-eu e identidade-nós de Norbert Elias,
de habitus de Pierre Bourdieu, trajetória individual e campo de possibilidades de Gilberto
Velho. Esses foram os conceitos chave mobilizados para compreender as principais
características da socialização, das trajetórias laborais e a construção das identidades
naquele espaço social. O estudo foi realizado com base em uma metodologia de cunho
qualitativo, fundada em técnicas de observação participante e entrevistas
semiestruturadas para conduzir um estudo de caso sobre o Pop Center e as pessoas
que nele trabalham. Foram entrevistadas 17 pessoas entre outubro e dezembro de
2020, sendo quinze trabalhadores, a gerente administrativa do Pop Center e o fiscal da
prefeitura de Pelotas. Os resultados demonstram que, por meio da identidade herdada
(camelô), os atores sociais constituíram e estão construindo identidades visadas,
fazendo a projeção de si no futuro. Na análise pormenorizada da ―identidade-para-outro‖
demonstra-se que a sociedade ainda os vê como camelôs, e por isso alguns desses
trabalhadores remetem a essa identificação, pois ainda são reconhecidos socialmente
por essa atividade. Já a ―identidade-para-si‖ opera na posição herdada, mas em
decorrência das suas trajetórias subjetivas ocorreu a incorporação de outras identidades
(comerciante, vendedor, lojista, microempresário, microempreendedor). Portanto, o
termo camelô é uma representação social duradoura do espaço social Pop Center,
resultado de processos sociais que remetem à socialização, as trajetórias e a
construção de suas identidades socioprofissionais.
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