Do intolerável ao impensável: potências educativas de um cinema cruel
Resumo
Nesta tese proponho uma problematização a respeito da interface entre cinema e educação. Diferente dos discursos e das propostas que centralizam o vínculo entre cinema e educação a partir da incorporação de filmes como recurso didático ou como um meio capaz de representar situações educativas, durante esta pesquisa trabalhei determinados conceitos teóricos com o objetivo de sustentar a ideia de que
o cinema é um dispositivo que produz efeitos de educabilidade a partir da afecção com a imagem em fluxo. Nessa perspectiva, refiro-me a uma forma de educação de si que ocorre através da experiência vivida em contato com os filmes. Sustento minha argumentação na teoria do cinema desenvolvida por Gilles Deleuze, principalmente suas ideias sobre a imagem-tempo. Deleuze desenvolve a ideia de
que o cinema é um acontecimento capaz de fazer pensar, de gerar o impensável no pensamento, de suscitar a criação de conceitos e a constituição de problemas que seriam responsáveis por uma nova imagem do pensamento, ou do pensamento sem imagens, que comece pela diferença. Defendo que o potencial educativo do cinema é da ordem da expressão filosófica, de uma filosofia da diferença, e encontra-se na sua capacidade de produzir pensamentos. Para tanto o conceito de "crueldade" é uma forma de expressão que vai além da representação, e está presente na superfície do filme; essas imagens nos afectam, fazendo aflorar pensamentos
novos, sem representação, pensamentos sem imagens. A tese foi realizada através do método cartográfico, assim, o mapa foi constituído tendo como referência empírica seis filmes contemporâneos para, a partir das contribuições de alguns
autores, como Gilles Deleuze, Antonin Artaud, Friederich Nietzsche, entre outros, identificar imagens cruéis capazes de gerar o impensável no pensamento.