O Fetiche da Capoeira Patrimônio: Quem quer abrir mão da história da capoeira?
Abstract
Esta pesquisa buscou apreender os pressupostos do processo de patrimonialização da capoeira. Para tanto, esse bem cultural foi analisado historicamente, elencandose os principais momentos que a metamorfosearam, desde seus primeiros registros
ainda existentes, sua criminalização e descriminalização, sua subsunção ao capital
até seu estágio evolutivo mais avançado como Patrimônio Cultural do Brasil. Em decorrência desse processo, foi analisado os discursos contidos dos documentos que a oficializam em sua forma patrimônio, bem como as políticas públicas implementadas para a capoeira até o presente momento. Referendada pelo
Materialismo Histórico e Dialético, essa pesquisa constatou que a capoeira, ao ser reconhecida pelo Estado brasileiro como patrimônio cultural, está perpetrada pelo fetiche da mercadoria, de modo que seus produtores Mestres e Professores e
seus praticantes necessitam atentar-se para a exploração inerente das relações de trabalho para produção da capoeira nesse estágio de mercadorização. Foi evidenciado que a forma em que o Estado brasileiro tem se proposto a incentivar a
capoeira, estão implicitas duas tendências cruciais para o futuro desse bem cultural: A primeira é pela negação de sua história, reduzindo seu caráter de resistência ao modo de produção capitalista a intrumento de paz no mundo ; a segunda manifestase no sentido de propor, em resposta a ânsia da comunidade capoeirana por melhorias de sua condição de classe, a regulamentação da profissão da capoeira.
Com isso, o discurso oficial tande a repetir a história tal qual vem ocorrendo no campo da educação física, a qual após ser regulamentada nada tem a comemorar.
Conclui-se que a comunidade capoeirana referende a capoeira como bem cultural alicerçada no projeto histórico da classe trabalhadora que está para além do
capital e não patrimônio , pois o mesmo representa uma vitrinização da capoeira pelo Estado Brasileiro para o mundo, que em troca não garante a permanência e atualização de sua existência, decompondo-a de suas características históricas. Ao
mesmo tempo, sugere-se que o Estado cumpra sua função e efetivamente execute políticas culturais para a capoeira sem aparelhá-la a ideologia burguesa, mas
garantindo o incentivo a todos os mestres que detém seu legado, sem distinção de idade, nem quantidade de beneficiados. Políticas que devem por em prática o auxilio na organização dos capoeiras de maneira democrática e transparente, diferentemente do que evidenciamos com relação as ingerências do Ministério da Cultura via Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e do Grupo de trabalho Pró-Capoeira