Regionalização para o cultivo do feijão no Rio Grande do Sul com base na interação genótipo x ambiente.
Abstract
No Brasil, o feijão (Phaseolus vulgaris L.) é cultivado em uma gama de ambientes
ecologicamente diferenciados. Por ser uma cultura altamente influenciada pela
variação de ambiente, sua produtividade média no país é instável e baixa. Uma
origem da oscilação da produtividade é a interação genótipo x ambiente, a qual tem
sido um dos maiores entraves para a obtenção de genótipos que mantenham
rendimentos consistentemente elevados nos diversos ambientes de cultivo. Os
métodos propostos para a exploração da interação genótipo x ambiente são
direcionados para a estabilidade do rendimento dos genótipos ou para a
regionalização dos locais de cultivo. A maioria dos genótipos de feijão registrados
para cultivo no Rio Grande do Sul evidencia instabilidade de rendimento. A presente
pesquisa explorou dados do Ensaio Estadual de Feijão (EEF) do Rio Grande do Sul,
conduzido em 24 locais no período de 1987/88 a 1994/95, com variação
considerável de genótipos e de locais entre esses anos. Essa pesquisa teve dois
objetivos principais: (1) avaliar a magnitude e a natureza da interação genótipo x
ambiente e (2) identificar possível estratificação da região de cultivo do feijão no
Estado em sub-regiões dentro das quais os genótipos tenham desempenho relativo
estável. As inferências sobre os componentes da interação genótipo x ambiente
foram procedidas pela análise conjunta de cada um dos oito anos e as análises de
dois subconjuntos de quatro anos e do conjunto dos oito anos. Em razão de se
pretender lograr uma regionalização de longo prazo, geral para os locais de cultivo
do Rio Grande do Sul e para qualquer coleção de genótipos de feijão, os fatores
ano, local e genótipo foram considerados aleatórios. Foram utilizadas as
metodologias de máxima verossimilhança e quadrados mínimos generalizados. Essa
abordagem permitiu levar em conta a estrutura incompleta e não balanceada dos
dados e a heterogeneidade da variância do erro experimental. Os resultados das
análises anuais revelaram alta significância do componente da interação genótipo x
local em todos os anos, indicando que o desempenho relativo dos genótipos se
altera entre os locais. Essa interação também se revelou significativa na análise dos
oito anos, mas não significativa nas análises dos dois subconjuntos de quatro anos.
Nessas três análises conjuntas de anos a interação tripla genótipo x local x ano foi
altamente significativa. A indicação de desempenho heterogêneo dos genótipos
entre os locais e a possibilidade do padrão desse desempenho ter alguma
consistência ao longo dos anos justificou a tentativa de agrupamento desses locais.
Foram efetuadas análises de agrupamento para cada um dos oito anos e para o
conjunto dos oito anos, pelo método de Sokal e Michener, que utiliza a distância
euclidiana como medida de similaridade. A análise de agrupamento do conjunto dos
oito anos constituiu sub-regiões incoerentes com as sub-regiões formadas pelas
análises anuais que, por sua vez, foram inconsistentes entre si. Essa incoerência e
inconsistência de agrupamentos impossibilitaram a caracterização de uma divisão do
Estado para a regionalização da indicação de cultivares. Observe-se, entretanto, que
essas evidências podem ter sido influenciadas pelas consideráveis alterações dos
genótipos e dos locais de condução do EEF no período de 1987/88 a 1994/95 em
cujos dados elas se baseiam. Também podem ter decorrido, em parte, de falhas das
técnicas experimentais adotadas nesse período de execução do EEF,
particularmente das acentuadas variações da data de semeadura e do estande por
parcela.