Racismo, educação e a construção identitária de jovens negras de uma escola municipal de ensino fundamental
Abstract
A presente pesquisa em educação versa sobre a construção da identidade racial de jovens negras de uma escola municipal de ensino fundamental, na cidade de Pelotas. A investigação, de natureza qualitativa, priorizou a escuta das vozes juvenis como a principal fonte de dados, a partir das suas experiências e participação no processo investigativo. O objetivo central da pesquisa foi compreender como um grupo de jovens negras de uma escola municipal de ensino fundamental constrói a sua identidade racial. Os objetivos específicos foram verificar onde, como e em quais situações estas jovens se percebem enquanto negras; analisar como estas jovens, a partir das suas experiências, vivenciam/materializam/percebem os conceitos de racismo, preconceito, discriminação e relações raciais; e averiguar como pertencer ao grupo social negro repercute nas vidas escolares das jovens. O referencial teórico situou-se entre autores dos Estudos Culturais, das Teorias Críticas e Pós-Críticas da Educação, dos Estudos Pós-Coloniais e, principalmente, de autores que têm se dedicado à Educação e às Relações Étnico-Raciais, com inspiração na teoria antirracista. Os instrumentos metodológicos utilizados para a geração dos dados foram registros fotográficos, entrevistas semiestruturadas individuais, uma entrevista coletiva e anotações em diário de campo. O material que constituiu o corpus dos dados da pesquisa para análise foram fotografias produzidas pelas jovens, a partir da proposição de quatro questões, a transcrição das entrevistas e as notas do diário de campo. O método adotado foi a análise de conteúdo, e as categorias centrais da interpretação dos dados foram identidade negra, racismo e educação. Todas as participantes da pesquisa se identificaram enquanto negras e a construção dessa identidade racial verifica-se a partir das relações sociais que estabelecem dentro de suas famílias e dos lugares que frequentam, baseadas em relações desiguais de poder que privilegiam a identidade hegemônica do homem branco, europeu, masculino, heterossexual, adulto, enquanto a identidade negra é negligenciada e subalternizada. A pesquisa refletiu o modo de viver a juventude e construir essa identidade negra das jovens, revelando seus modos próprios de ser e viver a sua condição como pertencentes a esse grupo racial na faixa etária na qual se encontram. Analisou, também, a construção da identidade racial das jovens enquanto negras, no que tange ao racismo, ao preconceito e à discriminação racial sofrida, e discute sobre a educação, no sentido de explorar as questões relativas à escolarização e à ascensão social. Os jovens negros reivindicam a sua negritude atualmente e resistem à branquitude enquanto ideologia que mantém os privilégios estruturantes e as desigualdades raciais no Brasil. Enquanto sociedade, é necessário desconstruir esse lugar da branquitude e construir um outro olhar para a negritude, contribuindo para reforçar sentimentos e representações positivas sobre a identidade racial de pretos e pardos a partir de uma educação antirracista, na luta contra todos os tipos de opressões sociais.