Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no sul do Rio Grande do Sul: seleção e caracterização de espécies estratégicas em processos de transição agroecológicos através de metodologia participativa
Resumo
Historicamente, as plantas alimentícias têm grande importância para a humanidade.
Ao longo do tempo, algumas poucas plantas foram priorizadas em detrimento de uma
diversidade de possibilidades, para atender interesses de uma agricultura industrialmecanizada hegemônica, com a justificativa não contemplada de resolver a fome no
mundo. As plantas alimentícias negligenciadas e outras com potencial alimentício que
vêm sendo descobertas recentemente foram reunidas no conceito de Plantas
Alimentícias Não Convencionais (PANC). Entre os principais detentores dos saberes
relacionados a elas, estão os(as) agricultores(as) camponeses(as), os(as) quais
mantêm uma relação íntima com o agroecossistema que os(as) cerca. O objetivo geral
consistiu em integrar saberes populares de agricultores(as) familiares e conhecimento
técnico-científico acerca das PANC conhecidas por agricultores(as) no sul do Rio
Grande do Sul, descrevendo aspectos do desenvolvimento e identificando as
multifuncionalidades de espécies prioritárias. Para tanto, a pesquisa consistiu em uma
metodologia de caráter qualitativa e participativa. Foram convidados(as) a participar
como colaboradores(as) da pesquisa agricultores(as) selecionados(as) de diferentes
municípios do sul do Rio Grande do Sul, os(as) quais(as) foram entrevistados(as), e
participantes ativos(as) através da metodologia ciência cidadã, ao acompanharem o
desenvolvimento de algumas espécies de PANC e observarem outras características
relevantes no contexto da agroecologia. Para isso, foi realizada a seleção de algumas
espécies de PANC prioritárias a serem caracterizadas e acompanhadas, guiada por
critérios pré-estabelecidos e de maneira participativa. Durante um ano, de março de
2022 a fevereiro de 2023, foi acompanhado pelos(as) colaboradores(as) o
desenvolvimento in situ e características associadas dos táxons selecionados.
Durante o processo, foram realizadas visitas às unidades de produção familiares,
conversas informais, fotografias e coletas botânicas dos espécimes acompanhados.
Para análise dos dados coletados, foi empregada a técnica de análise de conteúdo.
Como resultado, 12 colaboradores(as)/famílias agricultoras participaram da pesquisa
e 11 táxons de PANC locais foram identificados como prioritários. São eles:
bananinha-do-mato (Bromelia antiacantha), beldroega (Portulaca oleracea), buva
(Conyza bonariensis), chal-chal (Allophylus edulis), erva-de-pinto (Stellaria media),
língua-de-vaca (Rumex spp.), mastruz (Coronopus didymus), picão-branco
(Galinsoga parviflora), picão-preto (Bidens pilosa), serralha (Sonchus oleraceus) e
tansagem (Plantago spp.). Para cada um, os dados sistematizados resultaram em
uma riqueza de informações sobre ambiente de ocorrência, multifuncionalidades e
ciclo de vida. A partir da sistematização das informações e imersão na literatura
científica, ficou evidente a importância de pesquisas com foco em conhecer,
caracterizar e visibilizar espécies presentes naturalmente nos agroecossistemas. A
pesquisa na perspectiva da ciência cidadã proporcionou troca de conhecimento,aprendizado mútuo e estreitamento de laços. Encoraja-se a realização demais
estudos desse tipo, que envolvam pessoas, plantas e saberes.