Adequabilidade ambiental de Anastrepha grandis e efeito das mudanças climáticas no número de gerações no Brasil
Abstract
Anastrepha grandis (Macquart, 1846) é conhecida como a mosca-das-cucurbitáceas sul-americana e caracteriza-se por atacar espécies nativas ou introduzidas de cucurbitáceas. Embora o inseto cause danos devido a sua infestação nos frutos, as maiores perdas se referem aos embargos na exportação. Este trabalho tem como objetivo conhecer a adequabilidade ambiental para a ocorrência de A. grandis de algumas regiões brasileiras levando-se em consideração a temperatura e a umidade relativa do ar e estudar o efeito do aumento das temperaturas previsto pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) no incremento do número de gerações de A. grandis. Para determinar o efeito das exigências hídricas sobre adultos de A. grandis foram utilizados dessecadores de vidro com intervalos de umidade relativa do ar de 20-39, 40-59, 60-79 e 80-100%. Estes intervalos de umidade relativa foram obtidos, com o uso de ácido sulfúrico (H2SO4). Foram avaliados os períodos de pré-oviposição e oviposição, a fecundidade, a fertilidade e a longevidade. A partir das faixas ótimas de umidade relativa e de temperatura obtida da literatura elaboraram-se os termohigrogramas, utilizando-se dados históricos destas variáveis para os municípios selecionados. Já as variações climatológicas foram analisadas nos cenários de referência relacionados às normais
climatológicas obtidas de 1961-1990 e nos cenários de mudanças climáticas A2 e B1 do IPCC abordando um cenário menos pessimista (B1), e um cenário mais pessimista (A2) para as próximas décadas, podendo assim, estabelecer um zoneamento baseado nos fatores climáticos que influenciam o desenvolvimento do inseto possibilitando a definição dos ambientes ecologicamente favoráveis e/ou desfavoráveis. Determinou-se que a faixa ótima de umidade relativa do ar para o desenvolvimento dos adultos de A. grandis foi de 60 a 79% e que as áreas de produção de cucurbitáceas localizadas nas regiões Sudeste, Centro Oeste e Nordeste possuem uma maior adequabilidade ambiental para A. grandis em relação
as da região Sul do Brasil. Já em relação as projeções futuras para o número de gerações de A. grandis, levando-se em consideração o período de referência foi possível observar que nas estações mais frias (outono e inverno), as regiões Sul e
Sudeste apresentaram-se menos adequadas para o desenvolvimento de A. grandis, apresentando no máximo uma geração, enquanto que nas estações mais quentes (primavera e verão) o inseto pode ter duas gerações, diferentemente das demais
regiões do País, onde as temperaturas apresentam-se mais elevadas durante todo o ano, o que faz com que o número de gerações não varie de uma estação para outra. Para o cenário A2, foi possível observar uma variação no número de geração se
levar em consideração os três cenários climáticos futuros, 2011-2040, 2041-2070 e 2071-2100, fazendo com que A. grandis dobre o número de gerações, independentemente da estação do ano, devido principalmente ao aumento de temperatura global. Para o cenário B1, observou-se uma variação menor no número de gerações de A. grandis, principalmente na região Sul do País, enquanto que na região Sudeste, essa variação é mais acentuada, devido ao aumento da temperatura, podendo dobrar o número de gerações mesmo nas estações mais frias do ano.