Entre o programa delineado e a formação (des)dobrada: movimentos (trans)formativos do PNAIC-UFPel
Resumo
Esta pesquisa descreve e analisa como acontecem os movimentos (trans)formativos entre professoras, no âmbito da formação continuada do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa conduzido pela Universidade Federal de Pelotas. Do ponto de vista metodológico, trata-se de uma pesquisa qualitativa, embasada em princípios de uma abordagem hermenêutica-interpretativa (GADAMER, 2015, GRAUE, 2003). Realiza-se a análise de documentos pedagógicos e oficiais elaborados durante o desenvolvimento do programa (textos da política, produções bibliográficas, planejamentos e relatórios de formação) a partir do método de análise interpretativo, tendo dois eixos de análise, o programa delineado e a formação (des)dobrada. A formação é analisada a partir da dimensão intelectual assumindo a posição de que as professoras realizam movimentos de (trans)formação do programa delineado e desenvolvem formas de docência pautadas no estudo, na leitura e na escrita. Por sua vez, a dimensão relacional e interacional dá ênfase à potencialidade do diálogo entre Escola e Universidade como possibilitadora de entre-lugares que geram processos formativos fecundos. Como resultados desta pesquisa apresentamse as tensões, princípios e referências (MEIRIEU, 2OO2). A primeira tensão se estabelece entre a falta de espaço garantido institucionalmente e via sistemas de
ensino para formação e o espaço criado pelas professoras e oportunizado pelo programa para o estudo. A segunda tensão se cria entre o fornecimento de bolsa de estudos para as professoras entendido como elemento de valorização, por outro lado
não impactando na carreira docente. A terceira tensão se estabelece entre a concepção do programa que reconhece os professores como inventivos, porém produz uma contradição ao instituir uma lógica de desempenho e padronização curricular. A quarta tensão acontece entre as resistências de diversas professoras a se engajarem no processo formativo e o empenho das formadoras e orientadoras de estudo em reverter essa resistência. Uma quinta tensão se constitui na relação entre o programa de formação e os entraves que ocorriam para implementação da política. O primeiro princípio é que compreender é mais importante do que fazer, o que não torna o fazer dispensável. O segundo princípio impõe passar da superficialidade para
a profundidade no processo formativo. O terceiro princípio é que o processo de formação continuada é um movimento individual e coletivo. A primeira referência que fica como legado é o diálogo e o princípio democrático que perpassou a construção
da política e do programa. A segunda referência se constitui pela aproximação entre comunidades de formadores de professores e comunidade de professores (NÓVOA, 2009). A terceira referência é possibilitar espaços de formação que permitam criar
estranheza com o que é familiar e naturalizado. Assim, a tese sustentada é de que o espaço de formação construído entre escola e Universidade ultrapassou o programa delineado em uma formação que se (des)dobra, pois, ao construírem esse entre-lugar, professoras reconstroem o processo formativo, engendrando movimentos de (trans)formação ao assumir formas de docência pautadas pelo estudo, a leitura, a escrita, a relação e a interação entre pares.