Movimento Tradicionalista Gaúcho: a educação como estratégia de atuação no seu processo de institucionalização (décadas de 1950 a 1960)
Resumo
Este trabalho constitui-se em uma tese de doutoramento apresentada junto ao
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pelotas. O
tema da pesquisa é o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e tem como
principal objetivo verificar se a educação foi uma estratégia de atuação do MTG
durante suas primeiras duas décadas de atividade. A tese sugere, portanto, que o
Movimento Tradicionalista Gaúcho usou a educação como estratégia de
manutenção e disseminação de suas representações e práticas de tradicionalismo
nas décadas de 1950 e 1960. A referência epistemológica da investigação é a
História Cultural (BURKE, 1991, 1997, 2011; PESAVENTO, 2003, BARROS, 2011) e
promove, através da análise documental (LE GOFF, 1990; CELLARD, 2008;
CORSETTI, 2006; SAMARA e TUPY, 2010) e de uma entrevista semiestruturada
(LÜDKE e ANDRÉ, 1986), uma operação historiográfica (CERTEAU, 2015) com
fontes escritas e orais. As iconografias servem, apenas, como ilustrações. O corpus
documental é composto por três principais elementos: 1) livros de historiadores
tradicionalistas; 2) livros de Glaucus Saraiva, João Carlos Paixão Côrtes e Luiz
Carlos Barbosa Lessa, considerados os principais intelectuais do tradicionalismo
gaúcho; 3) entrevista com Mário Mattos, fundador do 35 CTG; 4) Anais dos
Congressos Tradicionalistas ocorridos dentro do recorte temporal (décadas de 1950-
1960); 5) números da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul que foram publicados
respeitando a delimitação temporal (décadas de 1950-1960). O debate acadêmico
leva em consideração, principalmente, os escritos de autores como Tau Golin (1983,
1987, 1989, 2004) Zalla (2010, 2012, 2015, 2018), Nedel (2005), Brum (2005, 2008,
2009a, 2009b, 2013) e Freitas (2004, 2006, 2007a, 2007b, 2009, 2011), sendo estes
identificados como contribuintes à temática do tradicionalismo gaúcho. Partindo da
ideia das tradições inventadas (HOBSWAM, 2012), as análises foram centradas,
principalmente, nas seguintes categorias: burocratização (WEBER, 1999); poder
simbólico (BOURDIEU, 2000); produção de cultura e estratégia (CERTEAU, 1998);
representação (CHARTIER, 2002; PESAVENTO, 1993); apropriação e práticas
(CHARTIER, 1995; 2002). A tese evidencia a ideia de que o MTG surge em um
contexto em que seus fundadores eram receptores de cultura e que adotaram como
tática o culto a elementos que julgavam próprios da cultura gaúcha. Assim surgiu o
Movimento Tradicionalista Gaúcho, que por meio de um aparato burocrático
complexo, se institucionalizou e garantiu para si o poder simbólico que o permitiu
construir e disseminar representações de tradicionalismo. Transformado em produtor
de cultura, o MTG investiu na educação como uma estratégia de atuação nas suas
duas primeiras décadas de atividade.