Estruturação temporal de assembleias de borboletas frugívoras no extremo sul do Brasil: uma avaliação em longo prazo
Resumo
Interações ecológicas e gradientes geográficos estão dentre os fatores mais
importantes na estruturação de uma comunidade, sendo capazes de moldar seus
padrões de diversidade e distribuição espaço-temporal. Juntamente com a mudança
latitudinal, ocorrem mudanças em variáveis climáticas importantes para a atividade de
diversos organismos e isso tende a gerar padrões de atividade sazonais em diferentes
espécies. Pesquisas envolvendo padrões de temporais de diversidade e sazonalidade
de insetos ainda são escassas, principalmente em se tratando de avaliações de longo
prazo e em regiões subtropicais. O objetivo do presente estudo foi verificar padrões
de sazonalidade na estruturação de assembleias de borboletas frugívoras ao longo
de cinco anos em Matas de Restinga no extremo sul do Brasil. Espera-se que a
sazonalidade dada pelas mudanças de temperatura entre as estações do ano
influencie os padrões de distribuição temporal das assembleias de borboletas
frugívoras, e que os parâmetros de diversidade sejam positivamente correlacionados
à essa variável, registrando: (i) maior riqueza, abundância e diversidade de borboletas
frugívoras nas estações quentes (verão e primavera) e menores nas frias (outono e
inverno); (ii) e que se registre uma composição de espécies distinta para cada uma
das estações do ano dado à região apresentar quatro estações bem definidas. Os
dados foram coletados mensalmente entre dezembro de 2014 e novembro de 2019.
O verão foi a estação que registrou maior riqueza e abundância, com N = 1.057 e S =
24 ; seguido pela primavera (N = 400; S = 20); outono (N = 376; S = 20); e inverno (N
= 72; S = 12). Surpreendentemente, a primavera foi, juntamente com o inverno, a
estação menos diversa do extremo sul do Brasil, devido à alta dominância encontrada
nessa estação. Primavera e inverno tiveram composição de espécies iguais, com as
demais estações com composições distintas. Para diversidade alfa, os padrões foram
determinados apenas pelas médias de temperatura; enquanto que para a diversidade
beta, altas temperatura e menor precipitação acumulada tiveram associação positiva
com a composição do verão; mas a interação entre alta precipitação e umidade
causam uma influência negativa na variação de abundâncias da primavera e do
inverno. A maioria das espécies indicadoras foram associadas ao verão. No presente,
estudo foram evidenciados novos padrões sobre o entendimento da distribuição
temporal e sazonalidade das assembleias de borboletas frugívoras para a região
subtropical. A região do estudo foi a porção mais austral estudada na América do Sul
e, possivelmente, apresenta sazonalidade mais pronunciada que as demais
localidades estudadas no Brasil. Executando trabalhos de longas séries temporais,
conseguimos compreender mais a fundo o que se passa nas comunidades,
compreendendo processos que possam estar gerando os padrões observados, além
de observar flutuações nesses padrões ao longo do tempo e poder fazer associações
com eventos climáticos, bem como às emergentes mudanças climáticas.