Diversidade genética e determinantes de virulência e de resistência a antimicrobianos e sanitizantes em isolados de Salmonella spp. provenientes de carcaças bovinas e produtos cárneos
Resumen
Salmonella spp., a bactéria causadora da salmonelose, causa milhares de surtos
dessa Doença Transmitida por Alimentos por ano no mundo. O tratamento de casos
severos da infecção pode dar-se com o uso de antimicrobianos, aos quais a
Salmonella pode adquirir resistência, bem como podem tornar-se tolerantes aos
sanitizantes frequentemente aplicados na indústria de alimentos, fazendo com que a
bactéria seja uma fonte persistente de contaminação no ambiente de produção. O
objetivo dos manuscritos 1 e 2 deste estudo foi caracterizar 55 isolados de
Salmonella spp. provenientes de carcaças bovinas e produtos cárneos da cidade de
Pelotas, quanto aos seus perfis fenotípicos e genotípicos de virulência e de
resistência a antimicrobianos e a sanitizantes, bem como avaliar a diversidade
genética entre os isolados. Todos os isolados apresentaram pelo menos um dos
genes de virulência avaliados no estudo. A resistência à tetraciclina e à ampicilina
foram as mais prevalentes, e o perfil fenotípico de multirresistência a antimicrobianos
foi observado em mais da metade dos isolados (56,4%), dos quais 32,2%
pertenciam ao sorovar Typhimurium, e 96,8% desses isolados multirresistentes são
provenientes de produtos cárneos. Onze genes de resistência a antimicrobianos
foram detectados em 31 isolados de Salmonella spp., entre os quais os genes tet(A)
e blaTEM foram os mais prevalentes. Plasmídeos portadores de genes de resistência
antimicrobiana foram encontrados em 41,9% dos isolados multirresistentes, sendo o
gene tet(A) o mais detectado nos plasmídeos. A tolerância aos sanitizantes foi
avaliada pela concentração inibitória mínima, apresentando valores de até 128
μg.mL-1 para o cloreto de benzalcônio e 32 μg.mL-1 para a clorexidina, sendo os
isolados menos tolerantes a esses compostos do que ao ácido peracético e ao hipoclorito de sódio, que apresentaram concentração inibitória mínima de 2048
μg.mL-1. Além disso, quase 90% dos isolados que se mostraram tolerantes ao
cloreto de benzalcônio foram isolados de produtos cárneos. O gene qacEΔ1, que foi
o único gene de resistência a sanitizantes detectado nos isolados, foi correlacionado
com o gene int1, sugerindo que existe uma relação entre a tolerância aos
sanitizantes e a resistência antimicrobiana nesses isolados. Foi observada
diversidade genética entre os isolados de Salmonella, especialmente nos sorovares
Typhimurium, Anatum, Heidelberg e Derby. Clonalidade foi observada apenas no
sorovar Senftenberg de carcaças bovinas. Já o objetivo do manuscrito 3 deste
estudo foi investigar a ocorrência e a diversidade genética de Salmonella enterica
subsp. enterica em linguiças comercializadas no sul do Brasil, bem como avaliar a
presença de genes de virulência e determinar os perfis fenotípicos e genotípicos de
resistência a antimicrobianos e sanitizantes. A prevalência de Salmonella nas
amostras de linguiça analisadas foi de 5,5%. Os sorovares predominantes foram S.
Infantis e S. Rissen. A análise por Eletroforese em Gel de Campo Pulsado (PFGE)
revelou nove perfis distintos, e alguns deles foram reincidentes no mesmo
estabelecimento em datas diferentes. Perfil de multirresistência a antimicrobianos foi
observado em 21,4% dos isolados, e as resistências mais frequentes foram à
ampicilina, sulfonamida, trimetoprima/sulfametoxazol e trimetoprima. Somente S.
Schwarzengrund apresentou os genes tet(B), strA, strB e sul2. O cloreto de
benzalcônio e a clorexidina foram mais efetivos que o ácido peracético e o
hipoclorito de sódio, apresentando menores valores de concentração inibitória
mínima. Os resultados observados neste estudo destacam a importância das boas
práticas de fabricação em abatedouros e ambientes de processamento de alimentos,
tanto em relação à contaminação cruzada quanto ao uso indevido dos compostos
sanitizantes, a fim de reduzir a contaminação com Salmonella multirresistentes a
antimicrobianos e tolerantes a sanitizantes em carnes e produtos cárneos. Também,
seis sorovares de Salmonella foram encontrados em linguiças, demonstrando um
risco potencial de salmonelose associado ao consumo deste alimento na região sul
do Brasil.